Na contagem regressiva para o encerramento da exposição “Lição de Anatomia – Luteria de Piano”, dedicada ao luthier Rogério Resende, no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, em Brasília, temos a oportunidade de contar na programação com o recital do pianista Joel Bello Soares, um gigante desse instrumento, em plena atividade, aos 81 anos de idade.
Exposição Lição de Anatomia - Luteria de Piano, no Museu Nacional da República, em Brasília |
No programa do recital de Joel Bello Soares constam as seguintes peças (que podem ser alteradas, sem aviso prévio):
1) L. van Beethoven - Sonata op. 27 nº 2
Adagio sostenuto
Allegretto
Presto agitato
2) F. Chopin - Fantasia op. 49;
3) C. Debussy - 4 prelúdios:
La puerta del Vino
La fille aux cheveux de lin
La sérénae interrompue
Les collines d'Anacapri
4) F. Chopin - Balada op. 23
Joel Bello Soares, decano do piano erudito em Brasília |
Joel Bello Soares é o decano dos pianistas eruditos de Brasília. Alagoano da cidade de Rio Largo, tem um belo currículo como concertista e professor de piano. Teve formação pianístico-musical sob orientação de Hermínia Roubaud (Rio de Janeiro), Jacques Février (Paris), e Rosa Sabater (Santiago de Compostela).
Joel Bello Soares, nos anos 1980 |
Como professor de piano atuou na Escola de Música de Brasília, Departamento de Música da Universidade Brasília, e Instituto de Música do Distrito Federal. Também atuou como professor convidado em escolas de música em Portugal.
Gravou e lançou, entre outros, os discos “Valsas, Polkas e Mazurkas – A música alagoana do início do século” (Brasil) (1987); “Heitor Villa-Lobos e Francisco Mignone” (Portugal) (1992), “Recital Joel Bello Soares – 25 Anos de Colaboração com o Projecto CCM/Artave” (Portugal) (2008), e “José Guerra Vicente – Peças para piano solo” (Brasil) (2011).
JBS, Doutor Honoris Causa pela UFAL |
Sarau na sala de estar do professor Joel Bello Soares |
Numa manhã quente e ensolarada, em Brasília, o professor Joel Bello Soares concordou em trocar uma prosa com o Blog do Hektor.
Rio Largo (AL), 1956 |
Joel Bello Soares – É uma cidade diferente de Maceió, mas muito próxima, 80 quilômetros, no máximo. O aeroporto de Maceió fica em Rio Largo. As distâncias são relativas.
BH – O senhor começou os estudos de piano em Maceió?
JBS – Comecei a tocar o piano, sozinho, em casa. Minha mãe tocava piano. Tinha cinco anos e toquei em um aniversário. Aprendi umas músicas, na véspera. Como eu desenvolvi cedo, puseram-me em uma professora, amiga da família, em Rio Largo. E depois fui estudar em Maceió, com o afamado professor João Ulysses Moreira. Aí, fiquei estudando, estudando...
BH – Em conservatório, escola formal?
JBS – Não, em particular. Na época, ninguém pensava em escola profissional. Música, em Maceió? De jeito nenhum.
BH – Não tinha escola desse porte?
JBS – Tinha no Recife. Mas Recife é um pouco longe.
Maceió, cerca de 1950 |
JBS – Maceió era uma cidade muito pequena. Devia ter os seus 80 mil habitantes, em 1940. Fiquei em Maceió, mas eu tinha minhas ideias em relação à música. Desenvolvi bastante, sempre no piano erudito.
BH – Que ideias?
JBS – Essas ideias eram fantasias minhas. Eram coisas que não existiam em canto nenhum. Então, enveredei por outros caminhos, fui estudar medicina. Fiz dois anos de medicina. Aconteceu que, no segundo semestre do segundo ano de medicina, houve um congresso de juventudes musicais, em São Paulo. E, em função desse congresso, a juventude musical de Alagoas, que já existia, me enviou como um dos representantes. Quando cheguei em São Paulo, eu acordei: o que eu imaginava, existia. De São Paulo, peguei um ônibus e fui para o Rio de Janeiro. No Rio, verifiquei que (a minha fantasia) existia mais que em São Paulo.
BH – O que aconteceu no Rio?
Theatro Municipal, no centro do Rio de Janeiro |
BH – O senhor viu alguém famoso à época, algum pianista?
JBS – Para mim, todos eram famosos.
BH – Nomes?
JBS – Os nomes eu não lembro. Mas eram orquestras, música de câmara, solistas. Quando voltei para Maceió, minha cabeça continuou trabalhando. No ano seguinte, refiz todos os planos, voltei para o Rio de Janeiro e para o bê-á-bá do piano. Estudei com a professora Hermínia Roubaud. Na verdade, minha vida musical começou a partir daí.
BH – Que ano foi isso?
JBS – 1955. Morando no Rio, fiz todos os cursos, os exames de piano. Terminei o curso superior, ganhei uma bolsa, com muita dificuldade, e fui para a França. Em Paris, fiquei mais quatro anos.
BH – Isso, em 1960.
JBS – Sim, fiquei de 60 a 64, em Paris.
Maurice Ravel e Jacques Février (ao piano) |
JBS – Sim.
BH – Esse período foi todo na França? Não veio aqui nem de férias?
JBS – Vim numa ocasião, para participar de um concurso de piano, no Theatro Municipal do Rio. Nesse, ganhei um prêmio de música brasileira. Mas depois voltei para Paris. E fiquei lá até 1964, quando voltei definitivamente para o Brasil.
BH – Voltou, mas não para Brasília.
Maestro Alceo Bocchino e o jovem pianista Nelson Freire |
Teatro Nacional de Brasília em construção, anos 1960 |
JBS – Vim por causa daquele recital, que acabou servindo para mim como um exame de admissão, pois todos do Departamento de Música estavam presentes. Eles, na verdade, estavam precisando de um professor de piano. Depois do recital, fui ao Departamento de Música, para agradecer a cessão do piano e, para a minha surpresa, acabei convidado a integrar o corpo docente da universidade.
BH – Quem dirigia o Departamento àquela época?
Maestro Miguel Arquerons e Coral Paulista, 1961 |
BH – Qual era o seu temor em vir para Brasília?
Policiais invadem a UnB e prendem professores e estudantes, em 1968 |
"Subversivos" presos na UnB |
Os piores dias da Universidade de Brasília |
BH – Consta que o senhor trouxe um piano do Rio para Brasília e nessa época teria que levá-lo de volta para o Rio de Janeiro.
JBS – Era um Essenfelder de armário. Para sair daqui, voltar ao Rio, carregando todas as coisas de volta não era fácil. Para a minha sorte, recebi um convite para permanecer. Fiquei animado. A Escola de Música não existia, mas tinha muito o que desenvolver. Dali fomos para outras instalações e, por fim, a Escola de Música foi instalada onde hoje se encontra, na avenida L2 Sul.
BH – O senhor é um dos fundadores da Escola de Música de Brasília.
JBS – Sim, a partir do momento em que a Escola começou, montaram o quadro docente, os alunos, a grade curricular. As coisas foram acontecendo aos poucos. Fiquei muito satisfeito, porque aquilo tinha futuro. E teve futuro.
BH – O senhor trocou uma vida de concertista, no agitado Rio de Janeiro, por uma vida pacata de magistério aqui em Brasília.
JBS – Não, eu consegui combinar as duas coisas. Sempre tinha a oportunidade de dar concertos no Brasil e fora do país, também. Tempos depois, eu estava na França, para onde tinha ido passar um mês trabalhando. Quando voltei, para a minha surpresa, recebi telefonema para passar no Departamento de Música da UnB. Eles queriam saber por que eu havia saído da universidade.
BH – Eles estavam anistiando os professores que foram demitidos?
JBS – Não foi isso. Eu tinha os meus papéis e eles tinham destruído toda a documentação do Departamento de Música.
BH – Quem destruiu?
JBS – Eu não sei.
Jânio Quadros: forças ocultas |
JBS – Forças ocultas. Eu mostrei que tinha trabalhado lá, etc. Tinha até os recortes de jornal mostrando os fatos da época. Aconteceu que na minha volta da França fui readmitido como professor no Departamento de Música.
BH – O senhor conseguia conciliar a vida na Escola de Música e na UnB?
JBS – Sim. E me aposentei pela UnB.
BH – Quem eram os seus contemporâneos na UnB?
Maestro Nasari Campos |
Violinista Natan Schwartzman |
Método de técnica vocal de Vanda Oiticica |
Maestro Levino de Alcântara (1922-2014) |
JBS – Foi o fundador do grupo de música, que virou a Escola de Música de Brasília. Foi ele que muito trabalhou pela música aqui em Brasília. Foi quem me convidou para ser o coordenador dos cursos de verão da Escola de Música. Graças a isso, tive grande experiência em ter alunos de todos os cantos do mundo.
BH – O senhor foi coordenador artístico e pedagógico dos cursos de verão.
JBS – Não de todos os cursos. Foram muitos alunos, alguns desses são maestros hoje.
Maestro Claudio Santoro (1919-1989) |
JBS - Como?
BH – Maneira de dizer. Dizem que quando a gente está tão perto, acaba esbarrando em alguém.
JBS – Quando fui para a UnB, teve aquela convulsão política. O maestro Claudio Santoro já estava lá. Depois, houve uma intercessão do maestro Levino Alcântara e do professor Paulo Afonso de Moura Ferreira junto à Secretaria de Educação do DF, com o então secretário Wladmir Murtinho, para trazer o Santoro de volta para Brasília. Nessa época eu não estava mais lá.
BH – Tocou com ele?
JBS – Sim. Ele regendo e eu tocando. Nos concertos do curso de verão, no auditório da Escola de Música
BH – Tocou o quê?
JBS – Possivelmente Beethoven.
BH – Tocou peças de Santoro, com ele regendo?
JBS – Não.
BH – O senhor gosta de dar aulas de piano?
JBS – Sim.
BH – E sua discografia? O senhor gravou vários discos dedicados a compositores pouco divulgados.
JBS – Gravei alguns. Um deles foi “Valsas, Polkas e Mazurcas – A Música Alagoana do Início do Século”. Não quero falar mal de ninguém, mas muitos artistas estão interessados em gravar músicos europeus, música europeia. Eu parti para outra linha. Prefiro gravar coisas que estejam ligadas à nossa cultura. Essa é uma maneira de reviver esses autores, a maioria desconhecidos do grande público.
BH – Ninguém conhece Misael Domingues, Tavares de Figueiredo, Heitor Cardoso...
JBS – Isso mostra que essas coisas existiram. Temos muitas gravações de artistas conhecidos, a música boa não existiu apenas em um único lugar.
BH – O senhor gosta de música popular?
JBS – Sim.
BH – O piano na música popular.
JBS – É muito interessante. Eu toquei muita música popular, mas depois achei que não fazia parte do meu estudo. Hoje tal música está na moda, amanhã já é outra, as modas vão se sucedendo.
BH – Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga são uma mescla de popular e erudito.
JBS – Entraram em moda, saíram de moda e entraram novamente.
BH – Hoje são os nossos clássicos brasileiros. O senhor gosta de tocar Nazareth?
JBS – Toquei muito.
BH – O senhor lançou um livro chamado “Alagoas e Seus Músicos”, no qual mapeia os principais compositores de seu estado natal. É interessante notar tantos nomes, para nós desconhecidos, inclusive de associações culturais que fizeram história.
JBS – O professor Vicente Salles, em conversa, disse: por que você não faz um livro sobre a música em Alagoas? Eu disse: não sei como fazer, se contar nos dedos, acho que não chegam a dez os nomes que me ocorrem. Ele disse: faça uma pesquisa e você vai ter uma surpresa. Pesquisei em arquivos, em Maceió e em Brasília, fiz pesquisas com parentes.
BH – O senhor tem predileção por algum autor em particular? Beethoven, Brahms?
JBS – Chopin.
Suposta última fotografia de Frederic Chopin, 1848 |
BH – O senhor se considera um especialista em Chopin?
JBS – Não, mas gosto muito de tocar Chopin.
BH – O que o senhor enxerga de qualidades em Chopin?
JBS – Foi uma questão de educação, de ter convivido bastante com a música de Chopin.
BH – O senhor gravou um disco dedicado ao piano de Portugal.
JBS – “Romantismo e Pós-Romantismo na Cidade do Porto”. Artur Napoleão, um dos compositores gravados, é um português-brasileiro. Este disco foi gravado em Portugal.
BH – O senhor teve alguma atração pelos movimentos de vanguarda da música, o atonalismo, o dodecafonismo de Schoenberg, por exemplo?
JBS – As pessoas querem ser pra frente. E esse pra frente, muitas vezes, botam as pessoas pra trás.
BH – Como assim?
JBS – Tem certas pessoas que querem estar muito em voga.
BH – É um tipo de música que lhe atrai? Essa coisa da melodia despedaçada.
JBS – Esse tipo de música não atinge as pessoas.
BH – O senhor acha que essa música de vanguarda fica restrita a um seguimento de apreciadores e tocadores?
JBS – Fato não é fazer música assim ou assado; fato é fazer música boa. Se ela é boa, será sempre aceita.
BH – Para o executante de obras conhecidas, como a de Beethoven, não é um desafio acrescentar um algo mais em algo tão conhecido?
JBS – É mais uma repetição.
BH – O senhor guarda lembranças do período militar no Brasil?
JBS – Eu viajei para Paris antes do (golpe do) regime militar. Quando voltei, os militares estavam no poder. Fui para o Rio de Janeiro, mas nunca me envolvi na política.
BH – O senhor presenciou aqueles dias de invasão militar à UnB? Que recordação tem daquela época?
JBS – Minha vida era tranquila. Eu percebi que grande parte das pessoas que batalhavam politicamente, o faziam em seu próprio proveito.
BH – Não havia aquele clima de conflagração ideológica?
JBS – Podia ser que fosse assim, mas na época a minha impressão era de que as pessoas faziam aquilo em proveito próprio. Hoje isso está provado.
BH – Se considerarmos que, quem esteve no cenário, em 68, e hoje está onde está, é verdade. O senhor tem razão.
JBS – Vamos mudar de assunto.
BH – O senhor é uma pessoa da praia. Maceió, Rio de Janeiro. De repente, está no matão do cerrado, Brasília.
JBS – Acontece. Eu devia ter meus oito anos e recebi de meu pai um grande mapa do Brasil. Nele estava escrito: “Futuro Distrito Federal”. Hahaha. Eu fiquei sem saber o que significava o “Futuro Distrito Federal”.
BH – Quando morou no Rio de Janeiro, o senhor sempre esteve ligado à música erudita? Nunca lhe atraiu a música popular?
JBS – Até tentei. Uma vez estava precisando de dinheiro e fui com um colega que disse que não podia tocar sozinho em uma boate.
BH – Qual boate?
JBS – Não lembro.
BH – Em Copacabana? Beco das Garrafas?
JBS – Não, era coisa séria.
BH – Existe boate séria, professor?
JBS – Era uma boate em um lugar muito bom em Copacabana. Fiquei lá durante 15 dias, trabalhava até tarde da noite, chegava em casa e dormia a manhã inteira. À tarde, não tinha vontade de estudar. Foi quando cheguei à conclusão de que estava ali para estudar e não para tocar em boates. Até que pagavam bem.
BH – Tocava o quê? Bossa Nova?
JBS – Música popular da época.
BH – O senhor gosta de Bossa Nova?
JBS – É muito americanizada, não é?
O polêmico e temido José Ramos Tinhorão |
BH – Quem diz isso é o (crítico, historiador e escritor) José Ramos Tinhorão.
JBS – O que foi a Bossa Nova? Era aquela turminha que se reunia em apartamentos de luxo no Rio, que ia aos Estados Unidos, e começou a fazer aquele negócio já com o intuito de vender música para os americanos.
BH – O senhor particularmente gosta?
JBS – Não. Não aprecio.
Magda Tagliaferro (1893-1986) |
BH – O senhor teve contato com Magda Tagliaferro?
JBS – Conheci. Tive contato com Dona Magdalena, em Paris e aqui. Ela foi a um concerto meu, no Rio de Janeiro. Toquei com uma orquestra. Depois ela foi me cumprimentar e fez elogios em altas vozes. Não gosto de citar nomes, porque a gente esquece alguém, ganha inimigos. Aprendi o seguinte: Joel, não cite nomes.
BH – Vi o senhor tocando a “Grande Fantasia Triunfal Sobre o Hino Nacional Brasileiro”, de Gottschalk. Ela é magnífica. O senhor gosta de tocar essa obra?
Guiomar Novaes (1895-1979) |
JBS – Essa peça fez muito sucesso. Quando a conheci eu era criança. Só quem tocava era dona Guiomar Novaes, que tinha licença para tocá-la. Na época da ditadura de Vargas, ninguém podia tocar essa peça, só o hino em si.
BH – Variações e improvisos em cima do hino não eram permitidos?
JBS – Não. Mas ela (Guiomar Novaes) tocava. Já me pediram para gravar. Essa peça é de domínio público. (O compositor) Gottschalk veio para o Brasil na época da Princesa Isabel. Essa fantasia ficou muito bonita e muito bem-feita. Ele também fez uma fantasia sobre o hino de Portugal, mas não é a mesma coisa. Pensei em gravar as duas, mas a portuguesa é muito fraca.
BH – Nosso hino parece uma ópera de Rossini, cheio daqueles rompantes.
JBS – O hino nacional brasileiro é curioso, ninguém sabe quem realmente o compôs.
BH – A música não é de Francisco Manuel da Silva, o mesmo que viria a fundar o Conservatório de Música do Rio de Janeiro, posteriormente Escola Nacional de Música?
Niccolò Paganini (1782-1840) |
JBS – Oficialmente. Acontece que antes esse hino já era cantado com outra letra. Dizem que a melodia era de Paganini. Ele, de fato, tem uma peça que lembra muito o hino brasileiro. Depois foi feita a orquestração por Francisco Manuel da Silva e a letra por Joaquim Osório Duque Estrada.
Heitor Villa-Lobos rege canto orfeônico no estádio do Vasco, Rio de Janeiro |
BH – O senhor estava no Rio quando Heitor Villa-Lobos regia aqueles cantos orfeônicos, como aquele evento lotado no estádio São Januário, do Vasco da Gama?
JBS – Não. Nessa época eu ainda morava em Maceió. Mas quando fui para o Rio de Janeiro, tive a oportunidade de conhecer Villa-Lobos em concerto, no Theatro Municipal.
BH – Ele regendo?
JBS – Não. Ele já estava doente e pouco tempo depois ele veio a falecer. Eu não morava no teatro, mas ia a tudo no Municipal: concertos, óperas, recitais...
BH – O Municipal ainda funciona um pouco assim, com aquele esquema de assinaturas. Concertos no sábado à tarde.
JBS – Atualmente caiu um bocado. Fizeram uma outra sala na Barra da Tijuca. Para mim, a Barra não é a cidade do Rio de Janeiro.
BH – O senhor gostava do Rio? Andava por onde?
JBS – Eu andava por toda parte. Eu frequentava o centro da cidade, os bairros da Zona Sul. Morei no centro, na avenida Mem de Sá. Depois fui morar em Copacabana. Da Tijuca até o Leblon eu tinha acesso. O resto era o subúrbio.
BH – O senhor gostava do Carnaval, o samba? Saía fantasiado em blocos?
JBS – Não. O Rio de Janeiro, para mim, sempre foi uma grande cidade. A cidade era espetacular.
BH – O Rio perdeu alguma coisa com a mudança da capital para Brasília?
JBS – A população passou a responder de uma outra maneira. A cidade sofreu com essa mudança, pareceu abandonada durante um certo tempo. Culturalmente acho que houve um retrocesso, principalmente na questão da música. A música foi para São Paulo.
CABRA CEGA
Joel Bello Soares, ao vivo em junho de 2015, no Parque da Cidade, em Brasília |
A pedidos, Joel Bello Soares aceitou a proposta deste blog de ouvir trechos de músicas e tentar identificar os autores e/ou executantes.
Jacques Février – “Gnossienne N° 1” (Erik Satie). “Isso é francês. Lá, lá, lá, lá, lá, lá... Quem está tocando? Jacques Février? Ele foi meu professor”.
Jacques Loussier – “Pastorale In Do Minore” (J.S. Bach). “Não sei o que é isso. Bach? Versão jazz? Eu ia dizer que para ser Bach está um pouco falsificado. Acho interessante para ouvir”.
Glenn Gould – “Caresse Dansée (Deux Morceaux)” (Alexander Scriabin). “Isso é brasileiro. Não? Scriabin? É russo”.
Martha Argerich – “Rapsódia Húngara N° 6” (Franz Liszt). “Rapsódia Húngara, de Liszt”.
Marvin Hamlich – “Solace” (Scott Joplin). “Chiquinha Gonzaga? Isso, Scott Joplin”.
Bill Evans – “My Foolish Heart” (Young/Washington). “Não conheço. Estou mais para o clássico”.
Maria João Pires – “Nocturne N° 2 in E Flat major” (F. Chopin). “Noturno, de Chopin. Quem está tocando? Maria João Pires? Sim, sei quem é”.
Thelonious Monk – “Round Midnight” (Monk). “O que é isso, um duo? Tem coisas que escuto, mas não me ligo”.
Nina Simone – “Little Girl Blue” (Richard Rodgers / Lorenz Hart). “Uma variação… Não sei. É tudo igual, a maneira de cantar, o caminho harmônico das músicas. Igual à nossa música popular. Acho que é coisa de momento”.
JBS, gigante ao piano |
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