segunda-feira, 23 de maio de 2016

Quer ir para Marte?

Marte, visto pelo telescópio Hubble, em 2003
Temos todos os motivos para um dia pisar em Marte. O maior deles, acabar com a nossa solidão e responder à avassaladora dúvida de milênios: há vida além da Terra? Que tipo de vida? Da mesma forma, tirar outra dúvida: é possível viver no vermelho e empoeirado planeta vizinho? Afinal, depois de detonar a Mãe Terra, a vaidade humana vai se sentir gratificada em saber que existe um outro lugar “por perto” onde poderemos fazer o mesmo ou pior. Com a vantagem de demorar anos até que os humanos tornem Marte insuportável.


Seja como for, parece vir da Nasa, a agência espacial norte-americana, a esperança de a humanidade parar de sonhar com vida em outros mundos, e tornar concreta essa possibilidade. Fato, a Nasa prepara missão humana a Marte, em 2030. Até lá, a ideia passa antes por laçar um asteroide, que deve ser capturado e redirecionado para a órbita da lua. Uma espécie de trampolim, para que a missão consiga alcançar Marte numa boa. O combustível, a propulsão solar, é claro.

Dois pontos brancos no céu escuro de Brasília: acima, a ISS; abaixo: Marte
O ponto brilhante no céu é Marte. Abaixo, a lua cheia
Tudo é incrível e dito dessa maneira porque Marte volta a chamar a nossa atenção esses dias com um espetacular brilho cada vez intenso no céu. Para explicar o que parece ser uma aproximação, a ciência nos diz que é por causa disso mesmo: é chegada mais uma vez a época em que a Terra e Marte se aproximam; na verdade, o período em que os dois planetas telúricos se alinham em relação ao sol, à distância de meros 75 milhões de quilômetros.

Amanhece na Terra e ainda é possível ver Marte no céu
Do ponto de vista do observador terráqueo (ora, quem mais?), um evento espetacular que deve ter seu ápice no dia 30 de maio de 2016, quando os dois estarão tão perto, embora tão longe.

Somos o terceiro planeta, a partir do Sol; Marte, o quarto
Se o leitor nem costuma olhar para o céu e de repente parece pensar que do nada a Terra e Marte estão próximos, saiba que essa distância mais curta, lógico, não é novidade. Acontece faz um tempão, com provável início quando da inauguração do sistema solar.

Os planetas não têm órbita circular em torno do Sol. Ponto. As elipses que descrevem em seus movimentos de translação fazem com que se aproximem ou distanciem conforme a época. Em 2003, a distância foi de “apenas” 55 milhões de quilômetros.


Entre 24 e 31 de maio de 2016, conforme dito, 75 milhões de quilômetros separarão esses dois mundos. Nesse mesmo período, Marte parece acompanhar o movimento da lua cheia, aparecendo no Leste após o pôr-do-sol e dando até logo ao amanhecer.

Marte, Saturno e Antares, os pontos mais brilhantes na foto


Faz dias que Marte e Saturno parecem fazer parte da constelação de Escorpião, os dois com a Estrela Antares (alfa do Escorpião) fazendo um perfeito triângulo escaleno. Como sabemos, os planetas não são parte de Escorpião e as distâncias entre todos os envolvidos é de magnitude inalcançável, exceto para os olhos humanos que conseguem ver e daí imaginar figuras no céu.


Viking 1

Hello, Mars
Marte aos pés da Viking 1, 1976
O brilho intenso de Marte nos faz lembrar que neste 2016 completa 40 anos do pouso da sonda Viking 1 no planeta vermelho. Mais um grande feito da humanidade, foram as sondas Viking 1 (em solo marciano, em 20 de julho de 1976) e Viking 2 (oi, Marte, em 3 de setembro daquele ano) que primeiro enviaram imagens do horizonte marciano, o solo de pedregulhos e começou a analisar amostras de poeira e pedras. À época, como agora, o objetivo era saber do que é feito Marte e se havia algum tipo de vida por lá.

Curiosity dando duro em Marte
Marcas d'água na superfície marciana

A Face

A Face é uma montanha


Cena do filme "Missão: Marte" (2000)
No filme, a face é assim
Foi quando nos demos conta de que Marte é aridez para todo lado e nem sinal dos canais cartesianos que a humanidade acreditava existir naquelas bandas. Muito menos aquela famosa face que outros tantos juram ter visto em solo marciano.



A exploração marciana, com os canais simétricos e a face, aliás, é bem muito bem descrita por Carl Sagan (1934-1996), no maravilhoso “O Mundo Assombrado pelos Demônios – A Ciência Vista Como Uma Vela no Escuro” (“The Demon-Hauted World”), no qual ao lembrar a incrível capacidade humana de reconhecer sua imagem em objetos e formas da natureza, essa não poupou a Lua e nem Marte. Durante anos, não faltaram relatos de coisas vistas no satélite natural da Terra e no quarto planeta a partir do sol.

Carl Sagan e o modelo da Viking
Ao afirmar que cataclismos cósmicos na forma de chuvas de asteroides, cometas e outros eventos abriram crateras na Lua e golpearam Marte, milhões de anos atrás, moldando lentamente os astros, Sagan refuta a imaginação que teima em ver intervenção Divina aqui como em outros mundos: “É uma vaidade característica de nossa espécie atribuir uma face humana à violência cósmica aleatória”, afirma.

Seguindo essa linha de raciocínio, fica difícil acreditar que quando chegar em Marte, o homem vai dar de cara com um marciano, pelo menos o tipo que o cinema e a literatura consagraram. Para que todo o esforço de chegar lá não seja em vão, e homens e mulheres retornem apenas com ridículos selfies, vídeos e sacolas de pedras, Carl Sagan nos conforta com o seguinte pensamento:

Mestre Carl Sagan

“Nas futuras missões a Marte ou aos outros mundos fascinantes na nossa área da floresta cósmica, as surpresas – mesmo algumas de proporções míticas – são possíveis, talvez até prováveis. Mas nós, humanos, temos um talento para nos enganar. O ceticismo deve ser um componente do conjunto de ferramentas do explorador, senão perderemos o rumo. Já existem maravilhas demais lá fora, sem que precisemos inventar algumas”.

Symphony of Science - Mars is a world of wonders

John Grant & Midlake - I Wanna Go To Marz (nada a ver com o planeta, segundo John Grant)

sábado, 14 de maio de 2016

The Winery Dogs em Brasília

Good wines: Sheehan, Portnoy and Kotzen
Começa por Brasília, neste sábado, 14 de maio, a segunda fase da Double Down World Tour, a digressão por vários países do power trio norte-americano The Winery Dogs.


Na estrada e tendo por base o segundo trabalho, "Hot Streak", lançado em 2015, o supergrupo formado pelo baterista Mike Portnoy (Dream Theater, Flying Colors, etc), o baixista Billy Sheehan (David Lee Roth, Steve Vai, Mr. Big), e o guitarrista Richie Kotzen (Poison, Mr. Big, etc) faz música que cai como grande antídoto baixo-astral, nesses dias de incerteza e usurpação do poder na grande terra Brasil.


Quem acompanha o trabalho dos caras sabe que o material entregue é de altíssimo nível. "The Winery Dogs", o disco de estreia, lançado em 2013; e o mais recente "Hot Streak" apresentam trama musical na qual são nítidas as influências e a excelência forjada nas bandas anteriores dos camaradas. No som, pedaços de rock progressivo, hard rock, blues, metal, e baladas AOR, o que faz deles, de fato, uma banda tipicamente norte-americana. Yes, they're an American band.

"The Winery Dogs" (2013)


"Hot Streak" (2015

Como é um power-trio, Mike Portnoy, Billy Sheehan e Richie Kotzen desfilam todo o vocabulário do gênero, ora parecendo os eternos Jimi Hendrix Experience, Cream, Grand Funk Railroad, Rush, e Triumph, só para citar alguns da mesma escola, que vêm à memória.

Riffs dos mais variados e surpreendentes, solos cheios de reviravoltas, cozinha chacoalhante e cheia de truques, e espaço para cada um mostrar o virtuosismo, sem cansar o ouvinte, eis o grande mérito dos Winery Dogs. Nada disso serviria se a música não fosse boa. Em resumo: um vinho forjado nas melhores vindimas do passado, e um produto perfeito para o século XXI. Mais para vinho do que cachorro. Let there be rock. Cheers!

The Winery Dogs, power trio para nossos dias 

The Winery Dogs - Fire