sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Lição de Anatomia - Luteria de Piano

The only and one Mr Monk
“The piano ain’t got no wrong notes” (O piano não tem notas erradas). Assim, Thelonius Monk, maravilhoso jazzman, definiu o rei dos instrumentos musicais. Ao que consta, em resposta a alguém que teria dito que o autor de “’Round Midnight” produz bela música, apesar de tocar as notas erradas do piano.

Bartolomeo Cristofori
A definição é perfeita, e aqui pode-se usar uma tonelada de adjetivos, pois o piano é invenção das mais espetaculares. Criado por volta de 1700, pelo italiano Bartolomeo Cristofori, está para a música como a prensa está para a escrita.

Se esta última, inventada por Johannes Gutenberg (em que pese as evoluções que desembocaram na atual tecnologia “touchscreen”), permite a visualização da escrita, com o piano a invenção foi além: ao toque dos dedos essas máquinas imprimem no éter, via ondas sonoras, o alfabeto e o léxico da música. Saber usar esses sons e levar a emoção ao extremo, só quem pode é a arte, a mais alta forma de expressão humana.



Museu Nacional da República, Brasília (DF)
E um piano por dentro, como é que é? Em Brasília, a resposta certa pode ser vista na exposição “Lição de Anatomia – Luteria de Piano”, em cartaz até o dia 29 de novembro de 2015, no Museu Nacional da República (Esplanada dos Ministérios). Se estiver na região, faça a gentileza de conferir essa raridade.

Rogério Resende e o mecanismo do piano
E se estamos falando de piano em Brasília, inevitável falar de mestre Rogério Resende, luthier extraordinaire, o nome por trás dos instrumentos em exposição. “Lição de Anatomia” apresenta um recorte em cima da coleção de pianos de Resende. Para a exibição, foram selecionados 11 instrumentos, que nos ajudam a entender a história e a evolução do grande invento de Bartolomeo Cristofori.


Steinway & Sons a caminho da restauração
Logo na entrada, algo sui generis. Um Steinway & Sons, modelo “A Rococo Grand Piano”, de 1885, completamente depenado, o pesadíssimo quadro metálico ao lado, sem cordas e a meio caminho da restauração. Rogério Resende conta que esse piano estava abandonado em uma chácara na área rural de Brasília. Provavelmente tomou chuva, calor e poeira, como pode?

Como chegou lá? Pouco importa, interessa saber que este magnífico instrumento um dia voltará à glória de seus ricos tons e acabamento de jacarandá polido. Na Casa do Piano, oficina onde Resende mantém coleção de 75 instrumentos, esta joia está sendo pacientemente restaurada. Uma vez pronta, vai rivalizar com as melhores restaurações de casas especializadas no ramo de todo o planeta.

Rogério Resende e a repórter da TV Globo Bruna Roma experimentam o Doublepiano
Outra estrela da exposição é um magnífico piano duplo, réplica de um Pleyel Doublepiano, construído por Gustave Lion, na França, por volta de 1890. Resende construiu essa maravilha com a engenhosa solução de duas tábuas harmônicas, que fazem com que os sons não se misturem ao serem produzidos nos teclados opostos.



Temos ainda pianolas, como uma raríssima Rosenkranz, modelo idêntico a um exemplar que pertenceu ao presidente norte-americano Woodrow Wilson (1856 – 1924). Aliás, em Washington (DC), na Woodrow Wilson House, dizem que o fantasma do presidente volta e meia aparece: é o que explicaria os sons de piano que inexplicavelmente surgem do nada no lugar. Há controvérsias.

Pianos. Ao fundo o Doublepiano

Piano de mesa Ernest Irmler (1850)
Assim, a exposição “Lição de Anatomia - Luteria de Piano” nos apresenta pianos dos mais variados modelos e tamanhos e as partes de tão formoso instrumento: o teclado, a mecânica, a caixa de madeira, os pedais, as cravelhas, o quadro metálico, os martelos, a tábua harmônica e todo o fino acabamento do rei dos instrumentos musicais.



Na abertura da exposição, no auditório do Museu Nacional da República, a pianista Ana Amélia Gomide e o violinista Egon de Mattos brindaram o público com belo recital com peças de Villa-Lobos, de Falla, Sarazate, Massenet e Brahms. Destaque para a arrebatadora “Csárdás”, de Vittorio Monti.

Para anotar na agenda: dia 20 de novembro, Ana Amélia Gomide e Elenice Maranesi, ocuparão o espaço com o imponente piano duplo. No dia 27 de novembro, o recital será com experiente Joel Bello Soares, um dos maiores pianistas deste país.

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