“It’s all really there, the inconceivable nature of nature”. Richard Phillips Feynman (1918-1988)
Richard Feynman, "diamond in the rough" |
Playing bongos like ringing the bell |
Sin-Itiro Tomonaga |
Julian Schwinger |
O homem que virou selo |
Diagramas de Feynman |
“The head of a pin is a sixteenth of an inch across. If you magnify it by 25,000 diameters, the area of the head of the pin is then equal to the area of all the pages of the Encyclopaedia Brittanica. Therefore, all it is necessary to do is to reduce in size all the writing in the Encyclopaedia by 25,000 times. Is that possible? The resolving power of the eye is about 1/120 of an inch---that is roughly the diameter of one of the little dots on the fine half-tone reproductions in the Encyclopaedia. This, when you demagnify it by 25,000 times, is still 80 angstroms in diameter---32 atoms across, in an ordinary metal. In other words, one of those dots still would contain in its area 1,000 atoms. So, each dot can easily be adjusted in size as required by the photoengraving, and there is no question that there is enough room on the head of a pin to put all of the Encyclopaedia Brittanica”.
Explosão da Challenger, em 28/01/1986 |
O jovem Feynman e Robert Oppenheimer, em Los Alamos |
Feynman e Arline viraram filme, em 1996, com Matthew Broderick e Patricia Arquette |
No Rio de Janeiro, em 1952. Feynman é o quinto na fileira da direita |
Com colegas do CBPF. Feynman é o sexto (e-d), na fileira de baixo |
A obra foi criada pelo amigo Ralph Leighton, camarada de tambores de Feynman, e filho Robert Leighton, colega na Caltech. Trata-se de depoimentos gravados em fitas ao longo de várias sessões de batucadas e depois compiladas por Ralph Leighton.
O título alude a um dia, quando o jovem Feynman – um cara não muito refinado, digamos – chega para estudar em Princeton, (“uma imitação de Oxford e Cambridge, incluindo o forçado sotaque britânico”), e é recebido com pompa e formalismo. No chá com o decano, a esposa deste pergunta a Feynman: “O senhor gostaria de chá com creme ou limão?”. Feynman: “os dois, obrigado”. E a mulher do decano: “Ah, ah, ah. Certamente o senhor está brincando, Sr. Feynman”.
Como chegou ao Brasil? Aparentemente a primeira dica de que deveria dar um rolê por essas bandas veio do inacreditável conselho de um cara para quem deu carona, quando lecionava na Cornell University, em Ithaca (New York). O sujeito falou: vá para a América do Sul, lá é tudo de bom. Feynman gostou e decidiu ter aulas de espanhol. Mas quando foi se matricular, viu uma gatona (no original: “a pneumatic blonde”, melhor traduzindo: uma louraça rechonchuda) se dirigindo para as aulas de português. Não teve dúvida, pôs-se na fila atrás da moça. O pudor anglo-saxão, no entanto, falou mais alto e debaixo de muito arrependimento, nosso herói foi aprender espanhol.
Na Espanha, "Esta Usted de Broma Sr Feynman!" |
Em seguida, num encontro de físicos em New York, Feynman sentou-se ao lado do físico nuclear brasileiro Jayme Tiomno (1920-2011). Este pergunta a Feynman: “O que você vai fazer no verão?”. Feynman: “Estou pensando em visitar a América do Sul”. Tiomno: “Por que você não visita o Brasil? Posso lhe conseguir um lugar no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas”.
Feynman vestido de diabo, no Carnaval de 1952 |
Hotel Miramar, no Posto 5, Copacabana |
Sua Excelência, o pandeiro |
Pronto, o americano passou a frequentar ensaios nos becos do bairro e virou integrante do bloco Os Farsantes de Copacabana (Fakers From Copacabana). Enturmado, seu instrumento passou a ser uma frigideira. Em certo ensaio, uns sessenta integrantes batucando, o mestre da bateria manda parar tudo. Tem algo errado com a frigideira. Fala o cara, um típico big black carioca guy: “O americano, outra vez!” (“The American again!”).
Intimidado? Nada. Feynman praticou e praticou e praticou. Tocou frigideira em festinha particular e acabou virando referência no bloco: “I became a rather successful frigideira player”. Com o Carnaval de 1952 pegando fogo, Feynman foi às alturas quando desfilou com o bloco pelas ruas de Copacabana, naquele cenário conhecido até hoje: aparece gente de tudo quanto é lado, todo mundo corre para as janelas dos prédios, para o trânsito, até a polícia aparece para organizar o desfile, todo mundo feliz, tudo muito informal, the Brazilian way of life, you know what I mean.
Umas pessoas da embaixada viram o americano todo entrosado no meio da multidão e resolveram mandar um bilhete, dando entender que o professor estaria ajudando nas relações bilaterais Brasil-Estados Unidos, ora vejam. Naquele carnaval, um dos melhores tocadores de frigideira foi o mestre da física quântica, Sr. Richard Feynman, now master of the frying pan!
Esse período no Rio, Feynman o descreve com muito carinho. Mas como não veio só para se divertir, guardou na lembrança algo muito estranho, e que depois descreveu no livro, a maneira como os estudantes brasileiros aprendiam as coisas. Melhor dizendo, que diabo de ensino é esse que se desenvolve neste país chamado Brasil?
Montaigne perdeu os cabelos com o estilo decoreba |
“Descobri um fenômeno muito estranho: eu podia fazer uma pergunta e os alunos respondiam imediatamente. Mas quando eu fizesse a pergunta de novo – o mesmo assunto e a mesma pergunta, até onde eu conseguia –, eles simplesmente não conseguiam responder! Por exemplo, uma vez eu estava falando sobre luz polarizada e dei a eles alguns filmes polaróide.
O polaróide só passa luz cujo vetor elétrico esteja em uma determinada direção; então expliquei como se pode dizer em qual direção a luz está polarizada, baseando-se em se o polaróide é escuro ou claro.
Primeiro pegamos duas filas de polaróide e giramos até que elas deixassem passar a maior parte da luz. A partir disso, podíamos dizer que as duas fitas estavam admitindo a luz polarizada na mesma direção – o que passou por um pedaço de polaróide também poderia passar pelo outro. Mas, então, perguntei como se poderia dizer a direção absoluta da polarização a partir de um único polaróide.
Eles não faziam a menor idéia.
Eu sabia que havia um pouco de ingenuidade; então dei uma pista: “Olhe a luz refletida da baía lá fora”.
Ninguém disse nada.
Então eu disse: “Vocês já ouviram falar do Ângulo de Brewster?”
– Sim, senhor! O Ângulo de Brewster é o ângulo no qual a luz refletida de um meio com um índice de refração é completamente polarizada.
– E em que direção a luz é polarizada quando é refletida?
– A luz é polarizada perpendicular ao plano de reflexão, senhor.
Mesmo hoje em dia, eu tenho de pensar; eles sabiam fácil! Eles sabiam até a tangente do ângulo igual ao índice! Eu disse: “Bem?”
Nada ainda. Eles tinham simplesmente me dito que a luz refletida de um meio com um índice, tal como a baía lá fora, era polarizada: eles tinham me dito até em qual direção ela estava polarizada.
Eu disse: “Olhem a baía lá fora, pelo polaróide. Agora virem o polaróide”.
– “Ah! Está polarizada”!, eles disseram.
Depois de muita investigação, finalmente descobri que os estudantes tinham decorado tudo, mas não sabiam o que queria dizer. Quando eles ouviram “luz que é refletida de um meio com um índice”, eles não sabiam que isso significava um material como a água. Eles não sabiam que a “direção da luz” é a direção na qual você vê alguma coisa quando está olhando, e assim por diante.
Tudo estava totalmente decorado, mas nada havia sido traduzido em palavras que fizessem sentido. Assim, se eu perguntasse: “O que é o Ângulo de Brewster?”, eu estava entrando no computador com a senha correta. Mas se eu digo: “Observe a água”, nada acontece – eles não têm nada sob o comando “Observe a água”.
Depois participei de uma palestra na faculdade de engenharia. A palestra foi assim: “Dois corpos… são considerados equivalentes… se torques iguais… produzirem… aceleração igual. Dois corpos são considerados equivalentes se torques iguais produzirem aceleração igual”.
Os estudantes estavam todos sentados lá fazendo anotações e, quando o professor repetia a frase, checavam para ter certeza de que haviam anotado certo. Então eles anotavam a próxima frase, e a outra, e a outra. Eu era o único que sabia que o professor estava falando sobre objetos com o mesmo momento de inércia e era difícil descobrir isso.
Eu não conseguia ver como eles aprenderiam qualquer coisa daquilo. Ele estava falando sobre momentos de inércia, mas não se discutia quão difícil é empurrar uma porta para abrir quando se coloca muito peso do lado de fora, em comparação quando você coloca perto da dobradiça – nada!
Depois da palestra, falei com um estudante: “Vocês fizeram uma porção de anotações – o que vão fazer com elas?”.
– Ah, nós as estudamos, ele diz. Nós teremos uma prova.
– E como vai ser a prova?
– Muito fácil. Eu posso dizer agora uma das questões. Ele olha em seu caderno e diz: “Quando dois corpos são equivalentes?”. E a resposta é: “Dois corpos são considerados equivalentes se torques iguais produzirem aceleração igual”. Então, você vê, eles podiam passar nas provas, “aprender” essa coisa toda e não saber nada, exceto o que eles tinham decorado”.
Não vamos estragar a leitura de quem pensa em ir atrás do livro e nem alongar demais tudo isso, mas fica aqui o registro de que Feynman faz uma análise crítica das mais contundentes sobre o ensino brasileiro, por tabela o nosso jeito brasileiro, nossa cultura brasileira, no que tange nossa “estranha forma de pensar”, “essa forma esquisita de auto propagar a ‘educação’, que é inútil, definitivamente inútil”. Estamos falando de 1952. O grifo é deste redator.
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