sábado, 3 de outubro de 2015

A Dama e o Maestro


Ainda em tempo de recomendar a todos que estiverem em Brasília e região, que compareçam ao teatro da Caixa Cultural (Setor Bancário Sul), a fim de prestigiar os shows do projeto A Dama e o Maestro.

Quatro shows, quatro duplas, só voz e piano, e a fina flor da nossa melhor música, nosso mais belo cancioneiro. Claudette Soares e Leandro Braga; Célia e Nelson Ayres; Alaíde Costa e João Carlos Assis Brasil; e Mônica Salmaso e André Mehmari.

Em cada dupla, um repertório exclusivo; canto e piano únicos, estilos de interpretação e arranjos igualmente peculiares. Em comum, o jeito de conquistar a plateia e afirmar que a música brasileira vai além fronteiras e toca na coisa universal, pois além de ser a nossa linguagem cultural mais requintada, é a expressão humana universal, que quando posta em prática arrebata corações e mentes. Arte, meus amigos.


Foi assim com Claudette Soares e Leandro Braga, na abertura do projeto. Tendo como base o cd que gravaram juntos em 2001, bastou Claudette entoar os versos de canções conhecidas, para que a vibração atravessasse o ar, acertando em cheio as almas sensíveis, abertas, com tamanho carinho e privilégio.

Canções conhecidas, vírgula. Você pode até achar que são manjadíssimas "Grito de Alerta" (Gonzaguinha), "Eu Sei Que Vou Te Amar" (Antônio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes), "Sábado em Copacabana" (Dorival Caymmi), "Charme do Mundo" (Antônio Cicero/Marina), "Falando Sério" (Maurício Duboc/Carlos Colla), "Hoje" (Taiguara), "De Tanto Amor" (Roberto & Erasmo) e um punhado de outras tantas que brilham e rebrilham em incontáveis discos e shows dos mais diversos artistas.

Na voz e na interpretação de Claudette Soares, e no toque mágico de Leandro Braga, no entanto, são versos que valem ouro. Este velho paraense, duro qual vara de açaí, em diversos momentos abriu as comportas dos olhos, tal a emoção contagiante e a mensagem, igual flecha, atravessando o ar. Parafraseando Drummond, digo que este palco, este som botam a gente comovido como o diabo. Ainda mais quando, ao ver Claudette, bateu uma saudade dolorosa de Dick Farney.


Claudette Soares, amigos, tem o amplo domínio do canto e da canção. Faz o que quiser com os versos, daí o imenso mérito de pegar o mais manjado repertório e tornar clássica a canção. Com a licença da patroa, que sensualidade aos 77 anos! Ela tem um jeito matador de jogar os cabelos, o sotaque carioca ainda é de menina, data vênia o máximo respeito.

Claudette Soares, circa 1966
Ela até lembrou que quando era gatinha, idos de 1966, e iluminava feito estrela o palco do João Sebastião Bar, em São Paulo, ocorreu o seguinte episódio: de minissaia, era a glória para a marmanjada pegar aquela carioquinha da gema e, vupt, coloca-la para cantar sentada sobre a tampa do piano de cauda.

Obrigado, Claudette. É por isso que eu vivo sonhando.

Alaíde Costa
E se não bastasse, o projeto A Dama e o Maestro nos reserva para este sábado (03/10/15) outra lady que merece o nosso mais profundo respeito, admiração e veneração, Alaíde Costa. Dona de discos antológicos, como aquele em que interpreta Hermínio Bello de Carvalho, Alaíde é dona de timbre peculiaríssimo, um outro jeito de dominar a canção.

Lembram de "Clube da Esquina", o magistral disco de 1972? Claro que lembram. Nele tem uma coisa paralisante: Alaíde Costa levando "Me Deixa em Paz" (Monsueto Menezes/Airton Amorim). Amparado nas vocalises de Milton Nascimento! Haja coração!







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