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No princípio era o ermo |
- Elizabeth Bishop (poetisa e escritora norte-americana);
- John dos Passos (escritor norte-americano);
- André Maulraux (escritor e então ministro da Cultura da França);
- Frank “It’s a Wonderful Life” Capra (cineasta norte-americano, que teria filmado um momento da construção, e cujas imagens permanecem inéditas);
- John Foster Dulles (secretário de Estado norte-americano);
- Fidel Castro (só teria parado de tagarelar quando fez um sobrevoo ao lado do presidente Juscelino Kubitschek);
- Golda Meir (então ministra do Exterior, de Israel);
- David Niven (ator britânico, que também deu um rolê de helicóptero sobre a cidade, ao lado de JK);
- William Burden (presidente do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque);
- Nobosuke Kishi (Primeiro ministro do Japão);
- Harold Champion (jornalista inglês, do Daily Telegraph);
- Giovani Gronchi (presidente da Itália);
- o príncipe Bernhard (Holanda);
- o príncipe Mikasa (Japão);
- Robert Wagner (prefeito de Nova Iorque);
- Dwight Eisenhower (presidente dos Estados Unidos).
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Beauvoir, Niemeyer, Sartre e Jorge Amado, em Brasília, 1961 |
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Che Guevara, em frente ao Palácio do Planalto, 1961 |
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Einsenhower e JK desfilam em carro aberto, no Rio de Janeiro, 1960 |
O cosmonauta soviético Yuri Gagarin (o primeiro homem a orbitar a Terra, no espaço sideral), em 1961, mandou essa: “Tenho a impressão de que estou desembarcando em um planeta diferente, não na Terra”.
No caso de Aldous Huxley (1894-1963), objeto desta investigação, em 1958, ficou aquela interrogação sobre o que teria pensado o grande escritor britânico sobre o Brasil e Brasília, enfim, cidade em obras que ele viu, acompanhado da mulher, a violinista e cineasta italiana Laura Archera Huxley.
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Aldous e Laura Huxley |
Com um profissional do porte de Antonio Callado (1917-1997) respondendo como editor-chefe, o matutino carioca colocou Huxley em primeira página, pelo menos duas vezes: quando proferiu palestra no auditório do Itamarati (estamos em 1958, o Ministério das Relações Exteriores funciona no centro do Rio de Janeiro) e quando visitou os índios iaualapitis (yawalapitis), à beira do rio Tuatuari (Mato Grosso), onde funcionava o então Posto Capitão Vasconcelos, do Serviço de Proteção aos Índios (a antiga Funai).
Eis o que teria dito Aldous Huxley sobre Brasília: "Vim diretamente de Ouro Preto a Brasília. Que jornada dramática através do tempo e da história! Uma jornada do ontem para o amanhã, do acabado ao que está para começar, de conquistas antigas às novas promessas!".
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Elizabeth Bishop |
Bishop conta que dentro do avião, num momento em que os passageiros interagiam, um homem, “velho e magro, com grandes orelhas e olhos tristes” (depois sabemos que vinha a ser o mesmo que deveria ter encontrado a poetisa norte-americana quando esta chegou sozinha a Brasília, precedendo a chegada do casal Huxley) foi até o assento de Aldous e o entregou uma prancheta com papéis.
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Aldous Huxley |
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Antônio Callado |
Ainda dentro do avião, de acordo com Bishop, Antonio Callado teria distribuído aos visitantes pílulas anti-malária e lançou um alerta de que os silvícolas que o grupo iria encontrar não eram exatamente os índios que viviam entocados na mata, mas sim aqueles que já haviam feito contatos com o “branco” e até usavam roupas e calças compridas.
Uma vez em solo, os índios cercaram o grupo, mostrando aquele tipo de interesse fácil de imaginar. Huxley, segundo Bishop, foi apresentado como “um grande capitão e consentiu em ser apalpado com admiração”. Na sequência, Elizabeth Bishop conta o surpreendente e emocionado encontro do sertanista Claudio Villas-Boas com o escritor britânico. Uma vez apresentado a Laura e Aldous, Claudio com os olhos cheios de lágrimas teria dito: “O Huxley, do ‘Contraponto’”? Sim, o livro “Counterpoint”, de 1928, que os brasileiros conheceram na tradução de Érico Veríssimo.
Alto, magro e pálido, de terno e gravata, Aldous Huxley deitou numa rede e foi examinado com interesse. Laura Huxley fez sucesso com uma sensacional câmera Polaroid (aquela que produz a foto em papel, logo depois de tirada). E para completar, o cacique caiapó Raoni Metuktire (aquele do botoque, ornamento de madeira enfiado no lábio inferior, descrito como “Ronny” por Elizabeth Bishop) apareceu, “falador e agradável”, segundo a escritora, “encantador e louco”, segundo Antonio Callado.
Huxley teria ficado encantado com um panapaná (bando de borboletas) à beira do rio. No mais, encantamento total de todo o grupo com os índios, seus hábitos e sua cultura (houve banho de rio e até luta huka-huka, com os índios pintados, em honra dos visitantes). Mais uma vez, os Huxley, Bishop e comitiva voaram para Brasília, para mais um pernoite no Brasília Palace Hotel. No dia seguinte, cada um tomou seu rumo.
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Foto que saiu na capa do Correio da Manhã, mostrando Laura Huxley e sua Polaroid com os índios do Xingu |
Eis o lead (primeiro parágrafo):
“Mais do que em nenhum outro país do mundo, no Brasil de hoje um avião pode assumir ares de verdadeira Máquina do Tempo, de H.G. Wells. Pode-se ir, num salto, das duvidosas doçuras de um passado ouro-pretano de gelosias de urupema, Marílias e mantilhas, às duvidosas bênçãos de uma civilização brasílica, que poderá tomar tons do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley”.
À grande pergunta no ar (Huxley gostou ou não gostou de Brasília?), Antonio Callado escreveu:
“Não me perguntem o que achou Huxley de Brasília pois ele é homem de palavras poucas e medidas e deve ter prontamente sentido a atmosfera emocional que envolve a Capital do presidente Kubitschek. Que ele gostou do Palácio da Alvorada gostou. Quando encontrou brevemente Oscar Niemeyer na véspera da partida, cumprimentou-o dizendo: ‘Vous avez fait là quelque chose d’extraordinaire, mon vieux’”.
O repórter, que mais tarde viria a escrever o romance “Quarup” (1967), abre um parêntese e enfia a seguinte opinião: “A mim – entre parênteses – me pareceu que, em relação a Brasília, este jornal, afora uma certa má vontade congênita com a cidade, tem em relação a ela a atitude correta: Brasília merece todos os elogios na seção de artes plásticas, mas muita severidade na última e na sexta páginas. É uma Cidade de Consumidores, plantada num deserto onde não se vê um pé de couve. Durante muito tempo vai sugar, com o mata-borrão daquele seu pó vermelho, as energias do país.... Mas uma cidade não começa pelas ferrovias e pelas hortas? Brasília vive em grande parte de uma ponte aérea, como Berlim ao tempo do assédio russo...”.
Considerando que o texto de Callado foi publicado antes do de Bishop, fica a impressão de que a poetisa norte-americana o teve como norte para lançar suas impressões. Callado aproveitou ainda para cutucar os paulistas: “Na volta, conversando com Huxley no avião, veio-me à lembrança um azedo artigo que ‘O Estado de São Paulo’ escreveu com o título acima (‘Huxley e a macumba’). Era um protesto ao fato de, no Rio, haverem levado Huxley a uma macumba. A mim pessoalmente me parece que cada um chega a Deus como pode, e que um terreiro de candomblé, com seu peji enfeitado e seu S. Jorge, vale tanto como uma igreja católica ou uma sinagoga. Quanto a Huxley, quando lhe falei na macumba, e no artigo que causara, ele declarou: ‘- Pois olhe, o rito dos pretos no Rio me fez compreender muito melhor os gregos primitivos’. Grego primitivo! Não é coisa de quatrocentos anos atrás, mas sim de quatro mil”.
Callado conta o episódio do corrimão, no Brasília Palace Hotel, e ainda lembra uma frase marcante da visita de Aldous Huxley à “capital da esperança”: “... cumprimentado por uma jovem e por um engenheiro entusiastas de Brasília, disse Huxley com a maior naturalidade: ‘Quero voltar dentro de dez anos para ver Brasília como uma cidade’.
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Huxley queria voltar a Brasília 10 anos depois de ter visto a cidade barro vermelho |
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