"Samba, agoniza mas não morre / Alguém sempre te socorre / Antes do suspiro derradeiro. / Samba, negro, forte, destemido / Foi duramente perseguido / Na esquina, no botequim, no terreiro".
Essa letra, misto de testemunho, denúncia, indignação, mas sobretudo, otimismo é parte da canção "Agoniza mas não morre", de Nelson Sargento, um sobrevivente da mais alta estirpe do samba do Rio de Janeiro.
Nelson Sargento, 90 anos, comemora o aniversário levando país afora a fina arte da síncope. Vai cantar em Brasília, de 25 a 28 de junho de 2015, no Teatro da Caixa. Junto aos amigos do Galo Preto e de Pedro Miranda, considerado uma das renovações do samba da Lapa, Sargento promete mais uma aula do mais brasileiro dos ritmos.
Acima de tudo um grande ouvinte, Sargento é dos poucos a falar em derivados do samba, como o pagode-de-mesa e o samba de terreiro. Com tanta experiência e anos de dedicação, Sargento virou um teórico como poucos. Além de defender belos sambas, numa genealogia que remete a si próprio, e a Cartola, Nelson Cavaquinho, Sinhô, João de Barro, Pixinguinha, dentre tantos legítimos heróis brasileiros, Nelson Sargento costuma falar coisas que nos soam estranhas, como as mudanças na estrutura do samba.
Só de perguntar "para onde vão os sambas enredos que não são aproveitados nos desfiles?", percebemos algo de grande na indagação. Considere o seguinte: no Rio de Janeiro temos atualmente 12 escolas de samba somente no grupo Especial (Viradouro, Mangueira, Mocidade, Vila Isabel, Salgueiro, Grande Rio, São Clemente, Portela, Beija-Flor, União da Ilha, Imperatriz e Unidos da Tijuca).
Nelson Sargento afirma que cada escola recebe, em média, 40 sambas-enredos, daí escolhe um. O que acontece com os que não são aproveitados? Mistério, daí não ser difícil afirmar que o samba agoniza, mas não morre.
Este que vos escreve é autor de umas poucas linhas sobre Nelson Sargento na revista Roteiro Brasília, cuja edição número 240 encontra-se disponível em versão impressa e no website da publicação.
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