sexta-feira, 22 de abril de 2016

Uma pista de presente para Brasília

Vista aérea do Parque da Cidade de Brasília
Por falar em Brasília, a capital do Brasil completou 56 anos, em 21 de abril de 2016. Símbolo do Brasil moderno, a cidade também é sinônimo de outras coisas, positivas e negativas e, claro, não é unanimidade entre os brasileiros.

Esplanada dos Ministérios, Brasília
Começando pelo lado negativo, para muitos Brasília é um absurdo, nem deveria existir, pois parece que sua construção e manutenção como cidade administrativa ao longo de mais de meio século se dá às custas do suado dinheiro do povo brasileiro. Dinheiro esse que sempre foi roubado por governantes, incluindo os representantes dos três poderes definidos constitucionalmente. Não é de hoje que a repugnância causada por incontáveis escândalos envolvendo a coisa pública provoca repulsa e ojeriza por todos que se sentem atingidos. A solução simples seria acabar com Brasília.

Brasília vista a partir do mirante da Torre de TV
Do outro lado, temos os que percebem que a solução prosaica de apertar o botão e mandar tudo pelos ares reflete em verdade pensamento pueril, ignorante, em nossos dias algo inconcebível, pois a história é outra. Toda unanimidade é burra, não é o que diria Nelson Rodrigues? Ainda bem. Para encurtar: Brasília é predestinação. Estava prevista, desde que esta terra era colônia portuguesa. E viver nela, vivenciar seus espaços e sua história, é um convite ao autoconhecimento, à felicidade individual e coletiva. A vida é luta. A vida é luto é outra coisa.

Estádio Nacional de Brasília (Mané Garrincha)
Toda a crise que desabou na cabeça dos brasileiros, óbvio, também afetou Brasília. Tivemos a Copa do Mundo, em 2014, que prometeu deixar legados. Ficaram o estádio, caríssimo, o aeroporto entregue à iniciativa privada, alguns viadutos e só. Um certo veículo leve sobre trilhos (VLT), transporte integrado, soluções urbanas, tudo foi pelo ralo da corrupção e do mau uso do dinheiro público.

Paul McCartney, no Parque da Cidade de Brasília, em 21/11/2014
Em 2016, pouco a comemorar. Se estivesse por aqui este ano, Sir Paul McCartney veria o Parque da Cidade de Brasília um pouco diferente daquele que experimentou quando passou pela capital, em novembro de 2014.





O Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, seu nome oficial, muito prazer, 37 anos depois de inaugurado finalmente ganhou uma pista nova, em asfalto, para abrigar, com segurança, pedestres, ciclistas, skatistas e patinadores. Eis um belo presente para Brasília.




Pode parecer pouco, coisa banal, uma pista a mais, um gasto a mais nas contas públicas, mas é a satisfação de uma necessidade, principalmente quando um grande número de pessoas correm para o Parque, para desfrutar de sua imensa área de lazer e se amontoavam na única pista, ainda que esta fosse segregada, com uma faixa à direita, para uso dos ciclistas.

Infográfico do jornal Correio Braziliense, de 2013, mostra a nova pista do parque


Não vamos falar dos custos dessa nova realização (na verdade, vamos: em 2014, o jornal Correio Braziliense falava em R$ 5,2 milhões), mas ressaltar que a nova pista renova, em Brasília, o predicado da civilização, da vivência compartilhada e respeitosa dos espaços públicos. Quem sabe, por vocação, Brasília talvez seja a cidade brasileira que mais valorizou a faixa de pedestres. Não é a que tem a melhor e nem a mais extensa malha cicloviária, mas certamente possui desde sua gênese a marca da urbanidade em sua forma mais virtuosa,





Dizem que a nova pista ainda será inaugurada com toda a pompa que só os governantes sabem dar a esse tipo de coisa. A sinalização vertical parece meio tímida, a horizontal está bem demarcada; é comum ver ciclistas e pedestres na pista errada. Não se trata aqui de determinar o uso correto sob o peso da lei, impor multas e sanções ao usuário por estar caminhando ou rodando no lado errado. Pelo menos para uma coisa a segregação das pistas pode ser boa: evitar acidentes.


Uma sugestão: o grande arremate pode vir na forma de campanhas educativas, para o uso consciente desses espaços. Quem sabe isso não vira (mais) um bom exemplo de cidadania em Brasília? Os patos e gansos do parque com certeza vão gostar.

Relógio solar de Oscar Niemeyer, no Parque da Cidade



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