Desde que a música, os filmes e os livros, passaram a não depender tanto do suporte físico para chegar até o consumidor, várias bombas explodiram nesse mundo cultural e, excetuando por um momento o cinema e a literatura, velhos hábitos mudaram para o ouvinte, esse artista que pula de galho em galho, mas não deixa de ouvir suas músicas favoritas.
Recapitulando: da morte e ressureição do vinil e do cassete à aparente atual falência do CD e dos primos bacana & chique (DVD & Blu-ray), o mercado da música não se ressente só da queda de vendas da assim chamada mídia física e junto com ela o hábito centenário de colocar um disco para tocar. O download digital pago é o mais recente doente dessa turma, uma vez que as vendas desse segmento despencaram vertiginosamente, como veremos a seguir.
Para um bom entendedor: não é preciso mais adquirir o cd e o dvd, muito menos encher o HD com milhares de arquivos que chegam via download (grátis ou pago). Em 2016, a música funciona à base do streaming. Quer ouvir/ver/curtir? Basta assinar os serviços, tipo Spotify, Deezer e coisas do gênero. I’m sorry, sunshine, mas tem que pagar.
Sim, é verdade, dá para ouvir/ver/curtir no YouTube e canais semelhantes, legais e piratas, mas não é o mesmo dos serviços de streaming, no qual o assinante manipula a biblioteca de música e não fica preso a anúncios indesejados, como nos casos das assinaturas grátis e limitadas. Ademais, o catálogo é enorme e não de crescer, e mais: não é preciso baixar um monte de música direto para o HD. Uma boa internet para que tudo isso funcione é condição sine qua non, tá certo?
When the streams are ripe... |
Para completar esse caldo de cultura, vejamos recentes números da Federação Internacional de Indústria Fonográfica (IFPI), quando esse mercado faturou em todo o planeta algo em torno de US$ 15 bilhões:
IFPI GLOBAL-MUSIC-REPORT-2016
12th April 2016
Global music revenues increase 3.2% as digital revenues overtake physical for the first time
• Digital sales contribute 45 per cent of industry revenues; overtake physical's 39 per cent share
• Streaming revenues up 45.2 per cent, helping to drive 3.2 per cent global growth
• Music consumption is exploding globally, but the "value gap" is the biggest brake on sustainable revenue growth for artists and record labels
Em bom português:
Receitas globais de música digital aumentam 3,2%; receitas digitais superam as físicas pela primeira vez.
• Vendas digitais representam 45% de toda a receita; vendas físicas, 39%.
• Receitas de streaming sobem 45,2%, ajudando no aumento de 3,2% das vendas globais.
• Consumo de música cresce em escala global, porém a “lacuna de valor” é o grande freio ao desenvolvimento sustentável, tanto para os artistas quanto para as gravadoras.
Lacuna de valor, “value gap”, que impede o tal “desenvolvimento sustentável” do mercado, é como a indústria da música classifica a desproporção de valores pagos a artistas e gravadoras, o que no final das contas faz enorme diferença.
Pelo uso da música, serviços pagos como o Spotify (considerado um fornecedor legítimo) remuneram os donos dos direitos em bases diferentes do praticado por canais como o YouTube (Google), que oferece música grátis. Segundo a IFPI, o YouTube teria gerado uma média de US$ 0,72 em royalties de música por usuário. Em 2014, por exemplo, o Spotify teria gerado US$ 20,16 por usuário, ou seja: 28 vezes mais.
Resumindo: música grátis na web (o grande lance da questão, pois muitos não estão dispostos a pagar) seria o mesmo que abastecer o mercado ilegal e só faz aumentar os problemas que daí derivam. Entrar nesse atalho leva a briga de cachorro grande, pode apostar.
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