sexta-feira, 15 de abril de 2016

A morte do download digital


Desde que a música, os filmes e os livros, passaram a não depender tanto do suporte físico para chegar até o consumidor, várias bombas explodiram nesse mundo cultural e, excetuando por um momento o cinema e a literatura, velhos hábitos mudaram para o ouvinte, esse artista que pula de galho em galho, mas não deixa de ouvir suas músicas favoritas.


Recapitulando: da morte e ressureição do vinil e do cassete à aparente atual falência do CD e dos primos bacana & chique (DVD & Blu-ray), o mercado da música não se ressente só da queda de vendas da assim chamada mídia física e junto com ela o hábito centenário de colocar um disco para tocar. O download digital pago é o mais recente doente dessa turma, uma vez que as vendas desse segmento despencaram vertiginosamente, como veremos a seguir.


Para um bom entendedor: não é preciso mais adquirir o cd e o dvd, muito menos encher o HD com milhares de arquivos que chegam via download (grátis ou pago). Em 2016, a música funciona à base do streaming. Quer ouvir/ver/curtir? Basta assinar os serviços, tipo Spotify, Deezer e coisas do gênero. I’m sorry, sunshine, mas tem que pagar.

Sim, é verdade, dá para ouvir/ver/curtir no YouTube e canais semelhantes, legais e piratas, mas não é o mesmo dos serviços de streaming, no qual o assinante manipula a biblioteca de música e não fica preso a anúncios indesejados, como nos casos das assinaturas grátis e limitadas. Ademais, o catálogo é enorme e não de crescer, e mais: não é preciso baixar um monte de música direto para o HD. Uma boa internet para que tudo isso funcione é condição sine qua non, tá certo?

When the streams are ripe...
Enquanto, a indústria fonográfica, que hoje já não é mais exatamente uma indústria assim, tão fonográfica, comemora a retomada do faturamento e o streaming como a salvação da lavoura, no outro lado do balcão, onde ficam os artistas, é alta a reclamação de que o repasse de percentual de vendas digitais chega a ser ridículo, uma vez que o todo é contabilizado em valores menores que um centavo, ou simplesmente nem é contabilizado. No tempo da mídia física, dizem os artistas, o controle de vendas era maior e o borderô, muito mais interessante.




Para completar esse caldo de cultura, vejamos recentes números da Federação Internacional de Indústria Fonográfica (IFPI), quando esse mercado faturou em todo o planeta algo em torno de US$ 15 bilhões:

IFPI GLOBAL-MUSIC-REPORT-2016

12th April 2016

Global music revenues increase 3.2% as digital revenues overtake physical for the first time
Digital sales contribute 45 per cent of industry revenues; overtake physical's 39 per cent share
Streaming revenues up 45.2 per cent, helping to drive 3.2 per cent global growth
Music consumption is exploding globally, but the "value gap" is the biggest brake on sustainable revenue growth for artists and record labels



Em bom português:

Receitas globais de música digital aumentam 3,2%; receitas digitais superam as físicas pela primeira vez.
Vendas digitais representam 45% de toda a receita; vendas físicas, 39%.
Receitas de streaming sobem 45,2%, ajudando no aumento de 3,2% das vendas globais.
Consumo de música cresce em escala global, porém a “lacuna de valor” é o grande freio ao desenvolvimento sustentável, tanto para os artistas quanto para as gravadoras.

Lacuna de valor, “value gap”, que impede o tal “desenvolvimento sustentável” do mercado, é como a indústria da música classifica a desproporção de valores pagos a artistas e gravadoras, o que no final das contas faz enorme diferença.

Pelo uso da música, serviços pagos como o Spotify (considerado um fornecedor legítimo) remuneram os donos dos direitos em bases diferentes do praticado por canais como o YouTube (Google), que oferece música grátis. Segundo a IFPI, o YouTube teria gerado uma média de US$ 0,72 em royalties de música por usuário. Em 2014, por exemplo, o Spotify teria gerado US$ 20,16 por usuário, ou seja: 28 vezes mais.


Resumindo: música grátis na web (o grande lance da questão, pois muitos não estão dispostos a pagar) seria o mesmo que abastecer o mercado ilegal e só faz aumentar os problemas que daí derivam. Entrar nesse atalho leva a briga de cachorro grande, pode apostar.

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