segunda-feira, 18 de abril de 2016

Prêmio Profissionais da Música 2016



O que fazer se ninguém (ou pelo menos muita gente) quer pagar pela música? O que fazer se ninguém mais quer discos abarrotando os espaços das prateleiras? Aliás, como sobreviver nesse meio de música fluindo na web? É o fim das mídias físicas?


Todas essas questões que tanto incomodam produtores, artistas e ouvintes, enfim, a cadeia produtiva da música, foi recentemente intensamente debatido, em Brasília, quando da realização da segunda edição do Prêmio Profissionais da Música 2016, que este ano teve como grande homenageado o compositor mineiro Fernando Brant, uma das pedras fundamentais do Clube da Esquina.

Como o nome indica, profissionais da música no Brasil se juntam em um grande esforço para, não apenas reconhecer e premiar o talento de músicos e técnicos envolvidos nesse meio, nas modalidades criação, produção e convergência, como também aproveitam as datas e fazem acontecer extensa programação de painéis, workshops e conferências. Um deleite para quem batalha no ramo, trabalha com as informações da área, ou meramente aprecia esse ramo organizado do entretenimento.


Veja aqui a relação dos vencedores do PPM 2016.

Detalhe funesto, que bem representa o estado de coisas que presenciamos na mídia brasileira, pobre de espírito e viciada na máxima “notícia boa é notícia ruim”, muito ocupada em derrubar a presidenta e instigar toda essa situação correlata: com a exceção da TV Cultura de São Paulo, que divulgou o evento no programa “Metropolis”, não houve cobertura da imprensa, nem mesmo a programação de shows gratuitos ganhou destaque na preguiçosa mídia  brasiliense. Como se o assunto não tivesse importância.

Aliás, nem mesmo representantes da Secretaria de Cultura do Distrito Federal estiveram presentes. Isso em um evento que teve o apoio do FAC - Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. Lamentável é pouco.

Sandra de Sá

Roberto Menescal

Flavio Renegado
Fernando Anitelli
Ronaldo Bastos

Olha que por lá passaram o passado, o presente e o futuro, artistas com vivência e experiência nesse mundo, tais como Sandra de Sá, Roberto Menescal, o rapper Flávio Renegado, Fernando Anitelli (Teatro Mágico), o compositor Ronaldo Bastos, além de muitos profissionais tarimbados, com informações preciosas sobre essa mina de ouro chamada mercado da música. Tudo aconteceu em um fim de semana, em um hotel de Brasília, e sabem como é: era sábado e domingo, jornais, rádios e tevês funcionam no piloto automático, as equipes estão reduzidas etc e tal.

Bem, o Blog do Hektor estava lá. E o Blog do Hektor acompanhou muitas das discussões acerca do lema do PPM 2016: “Música: o futuro do presente no Brasil no mundo”. Antes que o leitor fique embaralhado com o jogo de palavras, basta dizer que as discussões de altíssimo nível versaram sobre o futuro do som na imagem; o futuro da obra e do autor; o futuro do artista e da música; o futuro dos negócios digitais e das novas mídias; o ambiente de negócios, etc.



Thomas Roth
Thomas Roth, músico, compositor, publicitário, talvez mais conhecido como um dos jurados do programa “Ídolos”, do SBT, foi um dos mais ativos participantes das discussões travadas no encontro. Ele levantou a bola: a decadência da mídia física é fato, isso tem consequências graves para o mercado da música, mas ressalva seja feita, a criação continua à toda efervescência.

Eis o que disse a este blog:

Blog do Hektor – Então as mídias físicas estão com os dias contados...

Thomas Roth – Muitas vezes se fala na decadência da indústria da música, etc., mas as pessoas confundem muito a decadência de determinadas mídias físicas, como aconteceu com a fita cassette, o LP e o CD. Isso é uma meia-verdade. De fato, se a mídia CD é perecível – eu mesmo perdi várias matrizes gravadas assim, ao mesmo tempo essas mídias acabam voltando com formato melhor acabado. O long-playing de hoje é muito melhor do que se fazia 30, 40 anos atrás, estão falando na volta do supercassete....

BH – Os japoneses relutam em abandonar o CD.

TR – Então, em verdade, o ser humano tem essa tendência de substituir o velho pelo novo, como se o velho estivesse acabado. Com o tempo, isso está se provando não necessariamente como uma verdade. Muita gente abandonou suas coleções de discos, substituiu por mídias digitais, botou tudo no pendrive, essas coisas, mas de qualquer forma acredito piamente que todas elas sobrevivem, sobreviverão, todo mundo pode escolher, é muito mais democrático [escolher o formato]. Tem gente que adora o LP porque o espectro de frequência é muito maior do que o da mídia digital.

BH – O mercado vê essas nuances? Será que ele é tão bonzinho assim, tipo “escolha a sua mídia”?

TR – Não é isso. Cada um que cria a sua plataforma e elege o seu formato, tenta vender o seu peixe, a seu modo, cantando as vantagens e desvantagens de seu produto. As gerações mais antigas adoram ter o produto na mão, a garotada que nasce sob esse signo do digital, como não viveu isso, não necessariamente têm essa necessidade e se satisfaz baixando a música ou a ouvindo via streaming, seja de que forma for. Não tenho a visão excludente de que uma coisa elimina a outra. Vamos falar de coisas distintas. Uma coisa é a crise que eventualmente a indústria, em seu formato tradicional, esteja sofrendo, porque as pessoas estão comprando muito menos discos; esse fenômeno veio aliado à questão da pirataria; o universo digital meio que surgiu concomitante e passou a ditar as regras, mas isso não quer dizer que as outras mídias estão abandonadas. A outra coisa é a indústria da criação e da produção. Nunca se criou e produziu tanto (como agora). Isso mostra a força da música, a pujança da música. Trabalho com música e publicidade há mais de 40 anos e vejo como as marcas procuram se apropriar do universo da música. A música e o esporte são as duas ferramentas mais rápidas de se falar com o jovem, com seus targets, com seus públicos. As marcas, óbvio, querem que o consumidor se identifique com elas, que se engaje com elas. A música é, sem sombra de dúvida, uma ferramenta muito forte de engajamento. Todas as marcas querem se apropriar do universo da música.

BH – O mercado é muito maior que a indústria fonográfica, concorda?

TR – O mercado é o infinito. As possibilidades e as oportunidades, é disso que estamos falando nesse encontro. Por que a minha visão é absurdamente otimista e não pessimista em relação a tudo isso? Uma vez ouvi alguém falando: vocês conhecem um pessimista bem-sucedido? Sou otimista por princípio, por acreditar na minha força e na força das pessoas de mudarem tudo, suas vidas, seus negócios. Mas é preciso trabalhar para isso acontecer. Não adianta ficar chorando no canto, reclamando que o mundo está mudando. Tem dezenas de negócios e modelos que de fato acabaram. Hoje as pessoas já não andam mais de bonde. Todo mundo tem carro, mas lá na frente já não é o carro a solução e sim o transporte coletivo. Tudo isso vai mudando. Daqui a pouco, a indústria automobilística vai estar em crise.

BH – Pessoas esclarecidas pensam assim. Mas, e o público consumidor de música, ele pensa nessas possibilidades de mudança, ele percebe essa transição?

TR – Todo mundo que trabalha na cadeia da música almeja a maior fatia de público possível, seja nova ou antiga. Essa fase de transição fez com que muita gente tivesse essa dificuldade de manusear, de manipular essas novas tecnologias, tipo saber entrar no Rdio, no Spotify, no Napster. Como é que eu faço para ouvir música agora? Falam que o rádio vai morrer. Acho que não vai porque as pessoas adoram ouvir rádio, só que o rádio precisa mudar sua linguagem, o jeito de conversar com as pessoas, o jeito de conversar com o seu consumidor. Ao mesmo tempo, muita gente nova ouve, consome muita música, seja via Youtube, no iTunes, nas lojas online, nas redes sociais, o compartilhamento é enorme. Os números de compartilhamento são gigantescos; o mundo digital cresce, enquanto o da mídia física está caindo. Eu vejo com bons olhos. A crise não faz as pessoas abandonarem a música. A música é inerente ao ser humano; faz parte da alma do ser humano, é como comer e beber, não vai acabar.

BH – Necessidade fisiológica.

TR – Exato. É uma necessidade fisiológica. Vejo que a música está mudando. Nos muitos caminhos da música, acho que ela vai virar chiclete. As pessoas vão consumir música como quem masca chiclete, não vai ter mais aquela coisa de você guardar o seu disco lá dentro do armário, uma coisa que você ouve durante vinte anos....

BH – Olha, muita gente guardava o chiclete embaixo da mesa, e depois mascava novamente, ou seja, reaproveitava aquela goma.

Thomas Roth menos Cyz Zamorano
TR – Colocava o chiclete no açucareiro e depois na geladeira para ficar durinho. Hahaha. Eu também fazia isso. Na verdade, há um consumo cada vez maior, o problema é que hoje a coisa é mais rápida, tudo é mais efêmero. Talvez hoje não exista mais aquela coisa de ficar “preso” a uma música, a um mesmo artista.

BH – Quanto ao músico, parece que sempre vamos ter aquele mais relaxado, que vive no mundo da lua, onde o essencial para ele é criar, compor, e vamos ter o outro que sabe olhar para o todo como um empreendedor e se vale das ferramentas, das tendências e dos atalhos para atingir seu objetivo.

TR – É verdade. Seja por preguiça ou por necessidade fisiológica, de ele ter a verdadeira calma para produzir o seu trabalho, entendo isso. Mas falamos de artistas diferentes. Vou ser sincero: acho isso meio inadmissível. Na verdade, sou meio intolerante em relação a essas coisas. É o mesmo que um jogador de futebol que fica andando dentro do campo, fazendo corpo mole, não querendo jogar, enquanto todos estão se matando. Meu amigo, a gente tem que assumir as coisas. Quem está na chuva, tem que se molhar. Se você quer vencer (como músico), saiba que hoje o mundo mudou. Tem milhões de pessoas competindo com você, pessoas do mundo inteiro. O mundo ficou pequeno. Graças às ferramentas digitais, hoje você não compete só com artistas brasileiros. Entendo o ócio criativo, entendo essa necessidade, mas isso não quer dizer que ele não possa cuidar melhor da carreira, que ele não possa se preocupar com a distribuição de seu produto; é evidente que ele precisa se modernizar. Não é só criar. Eu sou intolerante nesse sentido: cara, vai atrás das coisas, o mundo é uma disputa. Não sou um defensor da competição predatória. Se eu não trabalhasse em um negócio que tem uma concorrência gigantesca, talvez eu não estivesse tão renovado, tão atualizado, com o espírito tão jovem como tenho hoje. Exatamente porque a concorrência me obriga a ir para frente. Não posso vacilar.

BH - Você mora em São Paulo, não é?

TR – Hahaha. É isso aí. Trabalho com música publicitária, tem mais de 80 estúdios concorrendo com o meu. Nesse mercado, pedem coisas de hoje para amanhã, de hoje para hoje. A coisa é violenta.

Incrédulo, Miles só observa


Outro profissional interessante ouvido pelo Blog do Hektor foi Afonso Andrade Marcondes, cabeça pensante por trás da Sync Originals – Creative Music Services Boutique, empresa de consultoria e licenciamento de música, que atende, dentre outros, produtores audiovisuais, agências, etc. Em seu currículo, longa temporada em Londres e trabalhos diversos de music publishing, com o selo Ninja Tune e artistas tipo Coldcut e o brasileiro Amon Tobin, para ficar em nomes, digamos, mais conhecidos.

BH – Você tem essa longa experiência no mercado musical britânico e agora mora no Brasil, tendo que lidar com os nossos conhecidos entraves e dificuldades. O mercado local é mais complicado do que parece?

Afonso Marcondes – É quase impossível operar aqui. As barreiras são muitas para quem trabalha nessa área: tributária, burocracia, red tape (regras excessivas), um governo que não entende de cultura, onde está o tal [circuito] Fora do Eixo, falando do Ministério [da Cultura], isso é tudo gente do mal, isso tem que acabar logo. Um evento tão interessante como esse, premiando a cadeia produtiva da música.... Infelizmente eu acho que isso para por aqui. Falo com a mão no coração. As coisas têm que ser melhor trabalhadas. No Brasil parece que não tem espaço para essas coisas.

BH – Não tem política de longo prazo para o setor?

AM – Acho que não. O que tem é “jabá” nas rádios, isso dá cadeia, é contravenção penal. Isso é tudo muito feio. É melhor vazar desse meio.

BH – Você denominou sua apresentação com o sugestivo título "Welcome to the Music Business. You're Fucked". Apesar disso tudo...

AM – Apesar disso tudo, eu continuo trabalhando. A parte que eu faço envolve publicidade, filmes, branding, tem pouca gente fazendo. A cultura aqui é trilha, sabe como é, é tudo ding-ding, dang-dang. Depois de amanhã, acabou a propaganda da margarina, ninguém mais vai lembrar da margarina. Com um artista jovem, tem um caminho: você faz exercício, um lançamento, as marcas na Europa perceberam isso faz uns 20 anos, na verdade, 10, vai.

BH - Você disse em sua apresentação que é preciso "enterrar os dinossauros da música". Pode explicar melhor o contexto dessa frase.

AM - Não quis dizer isso em relação à música, mas sim em relação aos modelos que atrapalham esse meio.

BH – Olhando para frente, como o jovem que gosta de música pode se envolver de maneira séria em “music business”? Temos bons cursos, bons lugares para onde ele possa correr?

AM – Diria que a primeira coisa é que o negócio se chama “music industry” ou “music business”. Tem a música que o artista faz, mas esse artista/empresário uma hora vai ter logo que entender um pouquinho de negócio. Ou seja, vai ter que entender que ele precisa ser um pouco mais disciplinado em seu dia-a-dia. Não adianta ficar nas redes sociais sem entender o que está fazendo. O primeiro pit-stop é uma coletora de direitos autorais para registrar as obras. E depois, procurar uns parceiros, mesmo sem muita experiência, que entendam da coisa e sejam apaixonados pelo que fazem. Um vai arrumar um show, outro vai fazer o website. Se não for assim, esqueça. Não vai dar nada certo. Sim, nós temos uma faculdade de produção musical, na Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo.

Slide da apresentação de Afonso Marcondes
Segundo Marcondes, bons tempos em que o disco era considerado cultura
De fato, não tem como resumir aqui todas as discussões travadas pelos profissionais que compareceram aos debates, workshops e talkshows do PPM 2016. Como lembraram Thomas Roth e Roberto Menescal, a crise existe, mas não é de criação. Conforme anotado, quem quiser sobreviver nesse meio, precisa saber do metiê, aprimorar o conhecimento; saber de direitos autorais; da música como ambiente de negócios; como produto de exportação, por aí.

Apresentação de Luciana Pegorer, da Associação Brasileira de Música Independente
Apresentação de Marinilda Boulay, representante do MIDEM
Em “O futuro da distribuição digital e startups”, talkshow voltado para discutir o produto música que flui na internet, nos celulares, enfim, sem um suporte físico, interessante conhecer a plataforma on-line desenvolvida pelo pessoal do NetShowMe, baseada em soluções de transmissões ao vivo na web.

No contexto da distribuição digital, o Brasil, país musical por excelência, em termos de produção e consumo, poderia estar lá na frente com um mercado rivalizando com a Europa e os Estados Unidos. No entanto, no entanto, no entanto... nossos terríveis gargalos - o custo Brasil - que tanto atormenta o setor produtivo também atinge em cheio o mercado musical. Palavra-chave: infraestrutura. Ou melhor, a falta dela.

James Lima, country manager da Believe Digital Brasil
James Lima, representante da empresa Believe Digital fez uma análise desse panorama.

BH - A distribuição digital já superou a distribuição física da música?

James Lima – A distribuição digital está presente no Brasil já há algum tempo, mas por causa da nossa infraestrutura era muito difícil vender esse tipo de coisa, porque a gente não tinha uma banda-larga boa, era discada, dentre outros problemas. Com a vinda dos grandes players para cá, melhorou bastante, mas ainda não é o ideal. Quem tem, hoje, tv a cabo, internet a cabo, fibra ótica, está conseguindo consumir música com mais qualidade. Isso não tem volta.

BH – Era isso que impedia as pessoas de entrarem nesse mundo, consumir música on-line?

JL – A tecnologia existia. O Brasil sempre foi visionário nesse sentido; nos anos 2000 a gente já tinha a Usina do Som; o Terra Sonora, em meados de 2005, que eram grandes plataformas, já com streaming, com download, com compartilhamento. A tecnologia era avançada para época. O que a gente não tinha era a infraestrutura. O consumidor acabava desistindo desse tipo de serviço.

BH – Ao que parece ainda hoje a infra não é boa.

JL – Isso, é claudicante. Quem tem wi-fi em casa, consegue as coisas, mas aí vem o gargalo da distribuição de música no Brasil: setenta por cento da população brasileira não consome música digital. Os motivos são muitos: em casa a conexão de internet é ruim; cerca de oitenta por cento dos telefones celulares são pré-pagos, assim o serviço fica limitado; se ele baixa música em um meio assim, consome todos os créditos. São coisas que impedem o crescimento da música digital no Brasil.

BH – Em algum momento essa conversa foi levada a esse nível junto às operadoras de telefonia, junto aos caras que detêm a infraestrutura? Algo do tipo: “ei, estamos perdendo dinheiro com essa internet de baixa qualidade”.

JL – Já conversamos muito sobre isso. Os operadores de telefonia, de tv a cabo e de internet sabem desses problemas. Sabem que isso não se reduz a investimentos privados, mas sim a investimentos que são feitos pelo poder público. Essas coisas são muito caras, o país é muito grande. Bem antes da Copa do Mundo de 2014, na época em que o Brasil foi escolhido, tivemos essa promessa de milhões e milhões de cabeamento de fibra ótica chegando aos rincões do país, muitas antenas de celulares, enfim, uma série de legados que não vingaram.

BH – Como isso impacta na venda de música digital, uma vez que o consumidor médio parece também estar abandonando as mídias físicas? Ele parou de consumir música?

JL – O cara já não compra mais CD, ele não tem internet, o que ele faz? Ele liga o rádio, não deixa de ouvir. Só que ele fica sem opção, não tem o que escolher o que ouvir. O problema é que as rádios também estão mudando, estão virando rádios de notícias, porque elas não se sustentam mais só com a música. O modelo de negócio mudou. Se esses entraves não forem resolvidos, vamos ficar com esses 30%, enquanto a maioria não vai consumir música.

BH – Isso é muito estranho.

JL – A gente tem tecnologia, o conteúdo brasileiro é enorme. A Believe Digital coloca músicas brasileiras em lojas virtuais de mais de 250 países. Não trabalhamos com mídias físicas, só digitais. Na verdade, o Brasil não consegue desenvolver esse potencial de consumo pela falta de qualidade daquilo que mencionamos.

BH – O fato de que é o streaming quem está dando as cartas, hoje, e não mais o consumo de mídias físicas, muito menos o download digital, tem que tipo de consequência nesse mercado?

JL – Uma coisa que atrapalhava o usuário, que baixava música no computador ou no telefone, eram justamente esses arquivos pesados de música. Baixar música consome memória do dispositivo. Os computadores ficavam cheios. Temos os drives nas nuvens, onde você pode guardar os seus arquivos, mas isso também é passado. Hoje, isso não é mais necessário. Com R$ 15,00, em média, você faz uma assinatura de streaming e tem 35 milhões de músicas à disposição.

BH – Isso é atraente para o consumidor?

JL – Muito, porque é bem democrático. Você pode escolher o que quer escutar; você tem as playlists; você tem listas para datas específicas, como viajar, para o Dia das Mães, para o dia do Impeachment; eles fazem essas coisas....

BH – Para o consumidor é uma mudança e tanto: não mais coloca um disco para tocar, mas volta a atenção para o streaming. Esse entendimento de que a música agora é assim, é uma mudança natural?

JL – Não, não é natural. Essa discussão precisa ser levada a todos os players, os produtores, com toda a cadeia produtiva, as gravadoras, enfim, precisamos pensar o seguinte: fazemos eventos só para a gente? Precisamos falar para o consumidor. Ele precisa saber que existe um, dois, ou três aplicativos, em que você paga uma taxa por mês e tem 35 milhões de músicas à disposição. É música para uma vida inteira. Temos essa deficiência de comunicação. O Brasil é diferente em cada região. Custa caro falar com o público. Essas coisas precisam estar na grande mídia. Como a música é um produto de baixo valor agregado, imagine fazer uma campanha nacional, para instruir as pessoas a aderirem ao streaming? Isso custa milhões. Você vende uma música por R$ 0,99, quanto tem que vender para pagar esse investimento? A gente tem que falar com o consumidor.

BH – A palavra streaming assusta, não? Imagina os programas de tevê de grande audiência ensinando como consumir música.

JL – Perfeito. Imagina dizer para o cara: olha, com menos de uma cerveja por mês você tem acesso a 35 milhões de músicas. Esse é o discurso. Streaming, download, Spotify, Rdio são palavras difíceis para o público, mas é um caminho sem volta.

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