segunda-feira, 3 de abril de 2017

Jorge Antônio, médico sem fronteiras

Dave Lee Roth abusando da coluna
Parte Um – Dores na coluna

Ciência e religião são duas janelas através das quais podemos olhar o mundo à nossa volta. 
Somos livres para escolher

Freeman Dyson

Este blog fala sobre música. Preferencialmente, mas não exclusivamente. Pela eterna relevância, alguns assuntos aqui tratados serão sempre revistos, pois merecem diferentes olhares, diferentes luzes sobre caminhos obscuros, diferentes entrevistas nas quais as conversas nos conduzem a um entendimento mais abrangente de uma situação.

Antes, um aviso prudente. Os textos aqui são enormes, pois este é um blog para ser essencialmente lido. Aos que não aguentam a verborragia, a porta está aberta. Aos que ficam, sigam as instruções para melhor aproveitar: relaxe, respire fundo, tenha à mão um café, um vinho, uma cerveja, um suco, um copo d’água e go ahead.

Só mais uma coisa antes de apresentar nosso convidado. A arte da conversa é o motor das coisas, das relações humanas. Dela surge a comunicação, o embate de ideias, a informação trafegando em mão dupla. Todos ganham, a humanidade avança. Como diria Stephen Hawking: para construir o impossível, tudo o que precisamos a fazer é continuar conversando.

Dr. Jorge Antônio da Silva, ortopedista
Irmãos e irmãs, este é Jorge, um brasileiro. Jorge Antônio da Silva, alagoano, deslocado para os lados do centro-oeste faz uma data. Médico ortopedista, encontrado a cada quinze dias dando plantão no Hospital de Base de Brasília.

Presidente Tancredo Neves, dona Risoleta e equipe médica do HBDF, abril de 1985
Hospital de Base famoso por ter recebido como paciente, em 1985, o então presidente eleito Tancredo Neves (o primeiro presidente civil pós-ditadura militar) que, como sabemos, deu entrada naquela instituição para tratar uma crise de diverticulite e acabou morrendo em seguida, em São Paulo, para onde foi transferido ao ter o estado de saúde agravado por diversas complicações.

Tancredo (sans Risoleta) e médicos do HBDF, abril de 1985
Não fosse o episódio obscuro com Tancredo, o Hospital de Base continuaria sendo o hospital público de referência fincado na região central da capital do Brasil, para onde correm os necessitados em casos de consulta, urgência e emergência

Hospital de Base, em construção (1959)

Hospital de Base (fevereiro/2017)
Dr. Jorge não está aqui para falar da história do HBDF e nem das condições de trabalho que enfrenta no atendimento aos pacientes.

Das muitas conversas travadas com o autor deste blog surgiu a vontade de registrar em diálogo os pensamentos recorrentes, ora sobre a medicina, a arte de curar moléstias, ora sobre as coisas do mundo espiritual. Interessante notar as muitas interseções desses dois campos.

Para um melhor aproveitamento, a entrevista foi dividida em dois segmentos. Um trata das coisas do corpo e da mente (a medicina do corpo), o outro fala da saúde espiritual, embora o autor deste blog faça a ressalva de que no fundo é um ignorante tanto nesta seara quanto naquela; não tem nenhuma autoridade sobre o assunto, tampouco interesse em doutrinar quem quer que seja, muito menos agir como uma voz discordante a cada assertiva apresentada. Um condutor, um motorneiro nessa viagem, digamos assim.


Blog do Hektor – Doutor Jorge Antônio?

Jorge Antônio da Silva – Jorge Antônio da Silva, seu criado para sempre.

BH – Nesse mundo ninguém define nada, mas o senhor é médico ortopedista?

JAS – Médico ortopedista.

BH – Cirurgião ortopedista?

Lição de Anatomia do Dr. Willem van der Meer, quadro
do pintor holandês Michiel Jansz van Mierevel (1616)
JAS – Na verdade, as atividades médicas podem se dividir em dois grandes grupos. Antes de surgirem as especialidades, surgiu o aspecto clínico e numa época bem heroica, nos séculos XVII e XVIII, iniciaram as atitudes diante de eventos, como por exemplo uma fratura exposta. Sabendo-se que o êxito era a morte, diante de infecção que invariavelmente acontecia, tentava-se salvar o paciente fazendo a amputação, sem anestesia, nem nada. Às vezes, pelo efeito do álcool, do uísque.

BH – Intoxicava o paciente, para que ele perdesse a consciência?

JAS – Sim, e muita gente segurando, para fazer a amputação e tentar salvar a pessoa. Depois, com a descoberta da anestesia, em 1846, mudou a sistemática de tratamento.

BH – E o que era a primeira anestesia?


Ether Dome, Massachussets General Hospital, Boston

The First Operation Under Ether, quadro de Robert Hinckley (1882)
JAS – Foi o éter. Foi realizado numa sala, que tive a oportunidade de conhecer, no Massachusetts General Hospital, de Boston, Estados Unidos. Chama-se Ether Dome, a Sala do Éter. A partir daquela experiência, as pesquisas se avolumaram e começaram a fazer cirurgia em pessoas, bem como as cirurgias denominadas eletivas, programadas, como a retirada de tumores, e correções cirúrgicas. Assim, surgiu o cirurgião, trabalhando com o auxílio do anestesista. Ainda no século XIX, após a descoberta da anestesia, houve a descoberta das bactérias, por Louis Pasteur, na França. E depois, por um inglês chamado Joseph Lister, apareceram os princípios da assepsia. Ou seja, a limpeza do membro, da região a ser operada, a fim de evitar que se instalassem infecções. Com isso, criaram-se as especialidades cirúrgicas. Primeiro, veio o cirurgião geral, depois o neurocirurgião, o otorrino, o gastroenterologista. Em todas as especialidades tem aqueles que se afeiçoam aos aspectos cirúrgicos e aos aspectos clínicos.

BH – Pode dar exemplos?

JAS – Sim. Quando se trata das articulações, o reumatologista cuida do aspecto clínico. Já o ortopedista cuida dos aspectos cirúrgicos.

BH – Então, todo ortopedista é cirurgião.

JAS – Todos, porém alguns deles, por alguns problemas de desilusão ou maus resultados obtidos, ficam frustrados e não têm a segurança de continuar realizando as cirurgias. Daí mudam e ficam só fazendo o aspecto clínico, fazem consultas, por assim dizer.

BH – Onde o senhor graduou em Medicina?

Vista aérea de Maceió (Alagoas)
JAS – Em Maceió, na Universidade Federal de Alagoas, em 1984. Fiz três anos de residência médica na Rede Sarah, a preparação para a especialidade. Três anos de residência em ortopedia. Permaneci lá 11 anos e meio. Agora, estou no Tocantins faz 19 anos. Atuo no Hospital Osvaldo Cruz e no Hospital da Criança. Em Brasília, atuo há dez anos no âmbito do GDF (Governo do Distrito Federal), no Hospital de Base. A cada 15 dias venho a Brasília, dar plantão no Hospital de Base.

BH – Qual a diferença entre o traumatologista e o ortopedista?

JAS – A maioria dos ditos ortopedistas tem formação no lado do trauma. É o mais corrente, o que mais se consegue fazer. À ortopedia interessa as correções, as deformidades congênitas, as paralisias, as sequelas do traumatismo. Por exemplo, a pessoas teve uma fratura, o osso se consolidou viciosamente – colou errado -, ou então não consolidou, isso são atos ortopédicos. Porém, o traumatológico é aquele que resultou numa fratura, na lesão de um tendão, de um osso. A maioria dos profissionais que a gente chama de ortopedista são, na verdade, traumatologistas. São poucos os serviços que treinam especificamente a ortopedia, o Sarah é um deles.

BH – A ortopedia é antiga?


JAS – Surgiu no século XIX, em 1841. O francês Nicolas Andry criou a especialidade com o nome Ortopedia, cunhada a partir do grego ortho (ereto) e paidion (criança). Então, o nome ortopedia significaria dizer “a correção da criança”. O livro que ele publicou dizia assim: ortopedia ou arte de curar e prevenir as deformidades na criança.

BH – Muito interessante.

JAS – Então, as especialidades foram surgindo. Até bem pouco tempo atrás surgiram especialidades cirúrgicas. A tecnologia agregou instrumentos que permitiram a exploração e o acesso a organismos, quer no campo do diagnóstico, quer no campo de tratamento.

BH – A tomografia, por exemplo?

JAS – Tomografia, ressonância magnética, coisas que têm uns 50 anos (a tomografia) e 30 anos (a ressonância).

BH – O senhor considera isso recente?

JAS – Sim. Mesmo porque tem cidades que nem conhecem esses exames. Se você for a Formosa, aqui perto, em Goiás, por exemplo, as pessoas sabem que existe a ressonância, porque vieram fazer em Brasília ou Goiânia. São aparelhos caríssimos, na faixa de mais de um milhão de reais.

BH – Usam energia nuclear?


JAS – Não. A ressonância não utiliza a energia nuclear. Não tem radiação. Ela tem um sistema composto por um campo magnético que atrai o átomo de hidrogênio, invertendo seu spin. Considerando que os átomos têm elétrons – lembrando a distribuição eletrônica proposta por Linus Pauling em níveis e subníveis, as camadas K, L, M, N, O, P, Q, sete camadas. Cada camada tem um subnível, com o número máximo de elétrons que comporta. O átomo de hidrogênio, que é um dos elementos mais abundantes no nosso corpo – lembrando que os compostos orgânicos são formados por carbono e hidrogênio, predominantemente; e água: mais de 70 por cento do nosso corpo é água. Portanto temos a molécula de água, H2O, formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. O hidrogênio só tem um elétron na eletrosfera. Quando uma pessoa é submetida ao campo magnético do aparelho de ressonância, o átomo de hidrogênio tem o spin invertido, com isso produz uma imagem. É a imagem que a ressonância oferece.

BH – Para efeito de diagnóstico, a ressonância produz imagens mais acuradas do que a tomografia?

JAS – Sim, é um avanço. A tomografia, por outro lado, é um exame a base de radiação. A energia nuclear no tubo condensa o elemento radioativo e dali o libera na dose que seja necessária, para realizar os cortes tomográficos do corpo. Como em um aparelho de raio-x.


BH – Desculpe a ignorância, mas aquela imagem perfeita que a gente vê em exames: ossos, articulações, em 3D, o que é?

JAS – A reconstrução em 3D é a tomografia. Essa reconstrução depende do que você vai fazer. Uma arteriografia, por exemplo, vai reconstruir a parte do corpo em que foi injetada, ou seja, você injeta um elemento dentro do vaso, ela vai mostrar o contorno desse vaso. O osso: vai mostrar o contorno externo do osso. Quando você realiza o corte, você mostra o interior do osso. Enquanto o raio-x traz uma informação uniplanar, a tomografia consegue mostrar volume. A recomposição dessas imagens fornece a tridimensionalidade.

BH – Equipamentos sofisticados. Por isso que é caro, não é?

JAS – São caros, mas a tomografia é mais barata. Digamos que se a ressonância em média custa mil reais, a tomografia sai por 400, 500 reais.

BH – O senhor deve utilizar bastante esses recursos. São ferramentas de trabalho.

JAS – Frequentemente. Todos os dias temos a necessidade de investigar os variados aspectos desses exames.


BH – Ouvi falar que o senhor é especialista em coluna.


JAS – A coluna é uma área que sempre me encantou. Desde que parei de tomar café, em 1980. Em 1982, fiz uma turnê pelo sul do país, para ver onde faria residência médica. No Rio de Janeiro, acontecia curso sobre anatomia, as ciências morfológicas, histologia, citologia. Aí vi um curso paralelo sobre a anatomia da coluna. Na faculdade, quando se disseca um cadáver, a gente aprende sobre a região do pescoço, o tórax, o abdome, um pouco dos membros, mas na coluna ninguém tem acesso, o dorso, parece que ninguém se interessa pelos detalhes. Aí, eu despertei. Meu pai, trabalhando, se queixava de dores no espinhaço. Na minha época, a coluna se chamava espinhaço. Daí, comecei a me interessar. Fiz esse curso e a partir daí não parei mais de estudar a coluna. Já operei muitas, no Sarah, crianças com deformidades: coluna torta, tuberculose na coluna.

BH – Tuberculose na coluna?

Percival Pott (1714-1788), fundador da ortopedia
JAS – Sim. Ela foi descrita pela primeira vez por Percival Pott, um inglês, cirurgião que trabalhou no Hospital Saint Bartholomew, um dos mais antigos da Europa, quiçá do mundo, à beira do rio Tâmisa, em Londres. Lá, em 1779, fez a correlação entre a cifose angular, espécie de quina que forma nas costas, com a paraplegia que as pessoas apresentavam. O agente etiológico só foi descoberto em 1888 por um alemão chamado Robert Koch.

BH – O do bacilo de Koch?

JAS – Isso. Veja que foram quase cem anos depois a descoberta do agente etiológico do problema descrito por Pott. Quando foi descoberto o bacilo, foi visto que ele predominava no pulmão, mas que poderia afetar também os ossos, a bexiga, os intestinos, embora seja o pulmão a parte mais afetada. Quando afeta outras partes, ela foi iniciada nos pulmões.

BH – E a pessoa contraía a doença pela respiração?

JAS – Sim, com o contágio com outras pessoas.

BH – Um ambiente infectado.

JAS – Não. Contato com pessoas portadoras do bacilo. Mas veja, não é todo mundo que pode contrair. Mesmo que tenha um tuberculoso aqui, não é todo mundo que adquire.

BH – Todo tuberculoso tende a ficar com a coluna encurvada?

JAS – Não. Quando acontece com a coluna, ocorre um colapso e ela fica com uma curva. Nesse caso, não havendo o devido cuidado, pode levar à paraplegia. Foi isso que Pott verificou.

BH – Isso tudo tem solução via cirurgia?

JAS – Sim. Já operei vários casos. No Sarah, à época que trabalhei lá, a gente pegava casos em que o paciente estava já paralisando, daí íamos na frente, abríamos o tórax, tirava a compressão da medula, aplicava enxerto ósseo, virava o paciente, fundia atrás, e fazia a estabilização. Assim, ele ficava livre da paralisia.

BH – Cem por cento recuperado.

JAS – Sim.

BH – A espinha ereta?

JAS – Não. A deformidade às vezes fica um pouco. Muitas vezes ao tentar deixa-la ereta você pode precipitar a paralisia. O paciente ficava um pouquinho defeituoso, porém sem paralisia.


BH – O senhor fala em cirurgias feitas em cima de deformidades, mas parece que no nosso tempo temos com um dos males a má postura, digamos, o mau uso da coluna. Esses casos também são passíveis de cirurgia?

JAS – A coluna da gente é como se fosse uma locomotiva. Temos a junção de 33 elementos. Trinta e três vagões. Entre um e outro – eles são empilhados na vertical, no homem, e nos animais quadrúpedes, na horizontal, como um trem. No caso do homem, coluna vertical, o amortecedor que separa uma parte da outra sofre pressão permanente, sentado ou em pé. Isso é que leva ao desgaste deles, comprimindo os nervos, causando a irradiação, tanto no sentido da perna quanto no dos braços.

BH – Isso pode levar à paralisia?

JAS – Em alguns casos, além de dores agudas e fortes. Crises em que a pessoa só sente o alívio fazendo a cirurgia.

BH – Nem analgésico resolve?

JAS – Analgésicos aliviam um pouco as dores, mas temos casos em que, mesmo o paciente internado, tomando remédio na veia, ainda assim não melhora. Cada caso é diferente.


BH – O senhor deve cuidar também de nervo ciático.

JAS – Sim. A hérnia de disco é um tipo de compressão. Ela comprime o nervo que vai para a perna.

BH – Acho que isso é bem comum, estou errado?


JAS – A coisa mais comum da ortopedia. Basta dizer que quando vamos pegar uma coisa do chão, a gente não dobra as pernas, mas curva as costas. Isso aumenta toda a pressão sobre a coluna e os discos amortecedores. Repetimos isso a todo momento. É mais do que natural que a coluna nos responda que está doendo, que não se deve fazer isso.

BH – Má postura, maus hábitos.

JAS – Nesses 34 anos em que me interesso por esse tema, a melhor coisa que já vi é, ao sentar, colocar os cotovelos na mesa e a mão no queixo. Ao fazer isso, você tira a pressão sobre a coluna e passa para a mesa. Esse é o melhor remédio que conheço.

BH – O senhor já teve problemas com a coluna?

JAS – Todos os seres humanos têm esse problema, em menor ou maior grau. A dorzinha é um aviso do corpo. O simples fato de sermos bípedes implica em fazermos pressão na coluna. Aquele cansaço no final do dia, aquela ardência, tudo é o corpo avisando.

BH – Já que é inevitável, como se evita o pior?

Francisco Cândido Xavier (1910-2002), médium
JAS – Nos últimos 25 anos, sistematicamente repito no consultório a recomendação de colocar os cotovelos na mesa e a mão no queixo. Já imaginou o Chico Xavier, que escreveu 412 livros, se ele não tivesse tido aquele cuidado? Repare nas fotos. Ele está sempre apoiando a cabeça. Uma atitude meditativa, porém, de certa forma poupando esforços sobre os elementos da coluna, os discos e os ossos.

BH – Exercícios aliviam as dores na coluna?

JAS – Dependendo da natureza do exercício, com a licença da palavra, ele pode arrebentar a coluna. Conheço desportistas, jovens pessoas dedicadas, que têm a coluna comprometida, parecem com a de uma pessoa de 90 anos.

BH – Esporte é saúde?

JAS - Depende. Se você considerar como saúde o exemplo dado por aqueles que trazem medalhas nos esportes de alto rendimento, pode escrever: essas pessoas se arrebentam. Basquete ou futebol, os joelhos ficam imprestáveis; se for corrida, a coluna fica imprestável; ou o desgaste vai ser muito mais rápido.

Usain Bolt
BH – Esses atletas parecem ter um ciclo ótimo muito curto, não é?

JAS – Vai ter aquele aproveitamento, que é o que ocorre hoje com os esportes de rendimento. Imagine o ombro de um nadador.

BH – Na água, o impacto parece menor. Mesmo assim ocorre desgaste?

Michael Phelps
JAS – O problema não é o impacto da água, mas o enorme esforço feito nesse sentido.  Estamos falando do sobre uso, que é o que causa o impacto e o rápido desgaste. Esporte bom é aquele praticado com eventualidade, três vezes por semana.

BH – Quando falamos em coluna comprometida, ou o mau uso dela, volta o exemplo de que nos curvamos para apanhar algo que está no chão, ao invés de agachar e fazer o devido movimento.

JAS – Correto. E você imagina que em muitos esportes, as pessoas constantemente alcançam os pés com as mãos, curvando as costas. A carga sobre a coluna é imensa.

BH – Isso não significa ter saúde, poder tocar a ponta dos pés, sem flexionar as pernas? Ter flexibilidade não é bom?

JAS – Flexibilidade é um aspecto, saúde é outra coisa. Temos exemplos de pessoas hiper-móveis, isto é, que têm um tipo de deficiência do colágeno, síndromes que fazem com que tenham as juntas extremamente elásticas, do tipo dobra o polegar e ele passa do ponto, tocando o antebraço, ou gira o cotovelo e ele também passa do ponto.


BH – Os contorcionistas, por exemplo?

JAS – Exato. Nessas pessoas, a aorta, que é um vaso importante, que faz a distribuição do sangue para todo o corpo, é bastante pressionada. Essas pessoas têm grande facilidade de ter aneurisma dessa artéria.

BH – Falando em consertar a coluna, qual a sua opinião sobre técnicas como o RPG, e a reeducação postural? Qual a eficácia desses procedimentos?

JAS – Todos os meios que realizamos têm as suas indicações e também os seus para-efeitos, isto é, os efeitos indesejáveis, nas leis da genética, os efeitos colaterais. Mesmo os medicamentos testados em laboratórios, em animais e em seres humanos, têm benefícios e malefícios. É determinante a idiossincrasia de cada pessoa. Uma inocente aspirina, por exemplo, pode prevenir tromboses, mas se você tiver alguma doença que provoque a diminuição das plaquetas, essa aspirina pode vir a provocar uma hemorragia digestiva. Se você tiver dengue, outro exemplo, não tome aspirina. É provável que haja a desagregação das plaquetas, provocando uma hemorragia interna incontrolável. Um alto risco de óbito.

BH – Ouvi falar que temos uma idade óssea, que nos aproximaria de uma idade real e que as datas nos calendários seriam meras convenções.


JAS – Em 1952, dois americanos fizeram um trabalho notável com uma população de crianças. Greulich e Pyle fizeram um atlas, radiografando crianças normais, o que hoje, do ponto de vista ético, é impraticável. Porém, foi um trabalho importante.

BH – Raio-X sem necessidade.

JAS – Sim. Mas esse atlas acompanhou e documentou os anos radiográficos seriados desde o nascimento até a maturidade esquelética; e viu-se a média de maturação do fechamento das placas do crescimento das pessoas. Esse atlas até hoje é usado como referência. Exemplo: quero ver se uma criança está desenvolvendo normalmente ou está atrasada, ou até adiantada. Faço uma radiografia do punho e contemplo as placas de crescimento do punho até os dedos, que é o que nos fornece a referência mais fidedigna. O punho do lado esquerdo, ou melhor, do lado não dominante.

BH – Por quê?

JAS – Para padronizar, pois se você usar o lado mais hábil, pode haver uma alteração dessa maturação óssea, em função da habilidade por ela desenvolvida.


BH – De qualquer forma, todos temos essa idade óssea. Voltando à coluna, parece que ela vai estar cem por cento, joinha, até uma certa idade, não é mesmo?

JAS – Até os 25 anos, depois tende a sofrer um processo de desgaste.

BH – Seja qual for a idade, não sabemos o tempo que temos.

JAS – Cada um de nós tem em média 1,5 bilhão de anos. Imagine as experiências pelas quais já passamos.

BH – Perdão.

JAS – Para chegarmos a esse patamar de humanidade demandamos aproximadamente 1,5 bilhão de anos na escala evolutiva. Desde o momento do princípio espiritual até agora. Uma pessoa altamente espiritualizada tem algo em torno de 2 bilhões de anos ou mais.

BH – Desculpe a piada, mas só se ela pintar o cabelo.

JAS – Essa pessoa espiritualizada sabe dessas coisas da coluna, de outras encarnações, outros orbes que já viveu, muito mais do que eu. Apesar de eu ter só três décadas de meditação sobre esse tema.

BH – Pergunta impertinente: se não tivéssemos virado bípedes, continuaríamos tendo problemas na coluna?


JAS – Graças à mão que nos transformamos. Era uma pata, ficou suspensa, ficou livre, mas sobrecarregou a coluna.

BH – A pinça nas mãos, com ela podemos melhor manipular as coisas e os alimentos.

JAS – Principalmente o polegar. Se você pensar na importância dos dedos, o polegar é 50 por cento da mão. Se alguém for amputar os seus dedos, não deixe que levem o polegar.

3 comentários:

  1. Meu irmão, gostei muito da entrevista. Parabéns.
    Estou de olho na próxima!
    Do Regiso Belo!

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  2. Médico com formação humanística e espiritual. Raridade em nossos dias.

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  3. Minha filha teve a grande oportunidade de ser paciente desse grande homem. Dr.jorge, obrigada por tudo! Vc e um espírito de luz, ser humano incrível e excelente profissional.

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