Pela quarta vez em Brasília, o cantor, compositor e multi-instrumentista inglês se alinha na tradição dos antigos bardos detentores da estranha capacidade de produzir encantamento através da canção
A figura do cantor, multi-instrumentista e compositor britânico Roger Hodgson (“a lendária voz do Supertramp”, conforme anunciado) evoca a dos bardos do passado, menestréis que perambulavam pelas cortes, não raro produzindo encantamento público a partir de canções repletas de mensagens profundas.
Roger Hodgson em Brasília (23 de março de 2017). Photo: Linda Tyler |
Les Visiteurs du Soir (1942) |
Já sabíamos desde muito tempo que a música do Supertramp tem essas qualidades, desde quando os clássicos álbuns “Crime of the Century” (1974) e “Breakfast in America” (1979) rodavam nos toca-discos de quem tinha um ouvido no rock e o pensamento para além dos mundos distantes. Em ambos casos, grandes ensinamentos proporcionados pela audição musical.
A filosófica “The Logical Song” e seus versos que apontam para a dúvida atroz que paira sobre a gente comum, ou as quase pueris, genuínas love songs “Give a Little Bit” e “It's Raining Again”, além de outras que falam de sentimentos mais comuns, fazem parte de uma enorme bagagem cultural irradiada a partir do mundo anglo-saxão, porém absorvida pelas mais diferentes culturas do planeta.
At night, when all the world's asleep,
the questions run so deep
for such a simple man.
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
but please tell me who I am
A todas essas belas canções atemporais do Supertramp juntam-se outras da safra solo de Hodgson, de imensa poesia que o qualificam como um dos grandes autores da música popular. A bela “Lovers in the Wind” (originalmente no álbum “In The Eye of the Storm” (1983)) poderia ter sido escrita por artífices da canção como Paul McCartney ou Elton John, mas o que dizer de “Death and a Zoo”, canção do álbum “Open The Door” (2000), presente no setlist da atual turnê latino-americana?
Não bastasse sua mensagem que instiga a consciência do ser humano em qualquer civilização, qualquer que seja a latitude, é com ela que Hodgson se dirige ao público com um questionamento que importa fazer na língua do público-alvo.
No nosso caso, público brasileiro, o músico indagou em trôpego português:
“Se você fosse um animal capturado, o que você preferiria? A morte ou viver em um zoológico?”.
Hey what would you do, caught between Death - Death and a zoo?
What if your world was stuck in a cage would you feel rage boy?
Caught in a crossfire, stung by the cold wire
Would it feel lonely?
Fazemos dos animais solitários bichos enjaulados. Sob o manto da “preservação”, no fundo aprisionamos as criaturas para que nos deem o que almejamos em nossa fraqueza humana: resistência biológica, resiliência comportamental, e exemplo de vida que segue mesmo no espaço mínimo de uma gaiola.
Roger Hodgson - Lovers in the Wind
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