terça-feira, 1 de dezembro de 2015

One of my heroes: Jorge Luis Borges (1899-1986)



La Rosa Profunda 

A Susana Bombal

A los quinientos años de la Héjira
Persia miró desde sus alminares
la invasión de las lanzas del desierto
y Attar de Nishapur miró una rosa
y le dijo con tácita palabra
como el que piensa, no como él que reza:

- Tu vaga esfera está en mi mano. El tiempo
nos encorva a los dos y nos ignora
en esta tarde de un jardín perdido.

Tu leve peso es húmedo en el aire.
La incesante pleamar de tu fragancia
sube a mi vieja cara que declina
pero te sé más lejos que aquel niño
que te entrevió en las láminas de un sueño
o aquí en este jardín, una mañana.

La blancura del sol puede ser tuya
o el oro de la luna o la bermeja 
firmeza de la espada en la victoria.

Soy ciego y nada sé, pero preveo
que son más los caminos. Cada cosa
es infinita cosas. Eres música,
firmamentos, palacios, ríos, ángeles,
rosa profunda, ilimitada, íntima,
que el Señor mostrará a mis ojos muertos

J.L.Borges


The Unending Rose
To Susana Bombal

Five hundred years in the wake of the Hegira
Persia looked down from its minarets
On the invasion of the desert lances,
and Attar of Nishapur gazed on a rose,
addressing it in words which had no sound,
as one who thinks rather than one who prays:

“Your fragile globe is in my hand; and time
is bending both of us, both unaware,
this afternoon, in a forgotten garden.

Your brittle shape is humid in the air.
The steady, tidal fullness of your fragance
rises up to my old, declining face.
But I know you far longer than that child
Who glimpsed you in the layers of a dream
or here, in this garden, once upon a morning.

The whiteness of the sun may well be yours
or the moon’s gold, or else the crimson stain
on the hard sword-edge in the victory.

I am blind and I know nothing, but I see
there are more ways to go; and everything
is a infinity of things. You, you are the music,
rivers, firmaments, palaces and angels,
O endless rose, intimate, without limits,
Which the Lord will finally show to my dead eyes.

J.L.Borges  


A Rosa Profunda

Para Susana Bombal

Aos quinhentos anos, no despertar da Hégira,
Pérsia viu dos minaretes a invasão das lanças do deserto, 
e Attar de Nishapur mirou numa rosa 
e disse com tácitas palavras que não tinham sons, 
como o que pensa, ao invés do que reza. 

- Teu frágil mundo está em minhas mãos. O tempo
nos encurva e nos ignora, 
esta tarde, num jardim perdido, 

Teu leve peso é úmido no ar. 
A incessante preamar de tua fragrância 
sobe ao meu velho rosto que declina. 
Mas te conheço muito mais do que 
aquela criança que te avistou 
nas camadas de um sonho, 
ou aqui, uma certa manhã neste jardim. 

A brancura do sol poderia ser tua, 
ou o ouro da lua 
ou a mancha escarlate na espada da vitória. 

Sou cego e nada sei, 
mas vejo que há muitos caminhos a seguir. 
E tudo é uma infinidade de coisas. 
Tu, tu és música, 
rios, firmamentos, palácios e anjos. 
Rosa profunda, ilimitada, íntima, 
que o Senhor mostrará aos meus olhos mortos.

J.L. Borges

Nenhum comentário:

Postar um comentário