|
Tour de France, 1933 |
Pensou em bicicleta, pensou em movimento. Aliás, perfeito movimento, perfeita interação homem-máquina. Não é preciso ser ciclista profissional para entender que é possível passar (sem sofrimento) duas, três horas pedalando constantemente (ok, numa mountain bike ou numa estrada, devidamente abastecidas com garrafas de água), impondo ritmo constante e fazendo o uso racional das marchas da bicicleta: coroinha na subida, coroão na descida. O segredo: sempre girar e girar, sem parar. Ficou cansado no selim? Pedala em pé.
Mensch-Maschine, maschine, maschine, maschine.... Eis o mantra.
|
Kraftwerk, men-machine |
Ok, bicicleta evoca princípios da Mecânica, energia cinética, deslocamento, propulsão humana. Kraftwerk. Por um momento, corpo e máquina, um só. Tudo isso lembra o prazer de pedalar, o sol, o vento, a adrenalina, a serotonina. Quem anda de bicicleta curte (a vida) um pouco mais do que aquele que se desloca quase sempre em quatro rodas. E ainda tem os que acham que andar é uma coisa terrível. Falando em bicicleta, se não for o equilíbrio e a gravidade, o chão é o destino.
|
Mr Menezes doin' the right thing |
E como pode alguém pensar na bicicleta em outro sentido, quase que praticando uma negação de toda essa alegria de viver? Como pode a bicicleta, como motivo, servir de inspiração para as artes plásticas, onde a sugestão de seu potencial “alegre” é o que menos transparece?
|
Iberê Camargo (1914-1994) |
Em
Iberê Camargo (1914-1994), a bicicleta (solar) é quase que uma contradição diante do fundo terrivelmente blue em que é retratada.
Se você estiver em Brasília, compareça ao Centro Cultural Banco do Brasil (até 11 de janeiro), a fim de verificar a exposição “Iberê Camargo – Um trágico nos trópicos”. Em meio ao cenário desolado, “pós-apocalíptico”, como sublinhou o curador Luiz Camillo Osorio, a bicicleta, mesmo debaixo de camadas e camadas de tinta, insiste em esperança, embora essa seja uma interpretação, não a intenção do artista.
Em 121 obras, nos amplos espaços do CCBB-Brasília, temos um vasto panorama de um dos grandes das artes plásticas deste país. Concebida para o CCBB-São Paulo, em 2014, a exposição comemora o centenário de nascimento de Iberê Camargo.
Intencionalmente ou não, a maioria dos quadros tem ciclistas como motivo. Carretéis e idiotas aparecem em menor número e ficamos sabendo que esses motivos se espalham ao longo da vasta produção do pintor e gravurista gaúcho.
|
Matriz em cobre para gravura |
Ver é crer e refletir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário