Louco é quem me diz e não é feliz...
Esqueça, aliás, renove suas convicções a respeito da música. Ou pelo menos de como ela normalmente deve ser mostrada em público, em uma sala de espetáculos, por exemplo.
Com o espírito desarmado e a alma despojada de egoísmo e interesses encare a apresentação do ex-Mutantes Arnaldo Baptista, em raríssima e desde já histórica aparição solo, no teatro da Caixa, em Brasília, dias 2, 3 e 4 de junho de 2017.
É a experiência garantida de que humanos somos e de quão capazes quando o amor e a dignidade norteiam nossas existências. Não importa que a gente viva 5, 20, 70 ou 100 anos. É sempre tempo muito pouco para ser feliz; a eternidade em um momento.
Arnaldo no Teatro da Caixa em Brasília (Foto: Hoana Gonçalves / Facebook) |
O que se viu e ouviu na primeira noite da temporada no teatro da Caixa foge à compreensão, o senso comum, de como um artista deve se portar em público. No show Sarau o Benedito?, Arnaldo Baptista instiga a fruição musical, a inteligência e os sentimentos da plateia, de modo que só os assim chamados gênios conseguem fazer.
Arnaldo: Sarau o Benedito? |
No palco, apenas ao piano e tendo ao fundo projeções de desenhos de sua autoria, Arnaldo encarna uma personalíssima jukebox, na qual rodam suas canções e de autores alheios, significativamente escolhidos.
Arnaldo Dias Baptista e as canções transfiguradas |
O canto engole frases, a voz às vezes fraqueja, os semitons saltam em relevo, as notas parecem trôpegas; o piano, afinal, responde como extensão dos comandos do executante.
Arnaldo é emoção à flor da pele, um menino feliz brincando com a música e com a plateia que o reverencia a todo momento. Suas músicas parecem transfiguradas, assim como suas favoritas dos Mutantes, Bob Dylan, Beatles, Peter, Paul & Mary, The Rolling Stones, Harry Belafonte, Chris Montez, Burt Bacharach, Elton John, Yves Montand. Pouco importa, tudo importa.
Felicidade é a pedra de toque, a chave de tudo. Só de ver essa pessoa assim ganhamos o dia. Uma noite de lágrimas de felicidade.
Eu juro que é melhor/ não ser o normal...
Em tempo: enquanto Arnaldo desconcertava em Brasília, São Paulo via no mesmo dia a premiére de Antinomies I, obra "perdida" de Rogério Duprat, o maestro da Tropicália. Nas projeções em vídeos, no auditório do Ibirapuera, vários desenhos de Arnaldo Baptista.
Agora, felicidade transbordante só mesmo levando para casa a nova edição em vinil 180 gramas do espetacular Loki?, masterpiece de Arnaldo lançada em 1974. Crianças, esse é um dos maiores discos de rock'n'roll de todos os tempos. Detalhe: sem guitarras!
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