sexta-feira, 30 de junho de 2017

João Bosco & Hamilton de Holanda - Eu Vou Pro Samba



João Bosco e Hamilton de Holanda mandando ver Linha de Passe. Difícil ficar indiferente ao talento, à sintonia e à sincronia da dupla. A canção de João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, por si só, já é algo irresistível, desde que apareceu pela primeira vez no disco Linha de Passe, de 1979.


"Toca de tatu, lingüiça e paio e boi zebu/ Rabada com angu, rabo-de-saia/ Naco de peru, lombo de porco com tutu/ E bolo de fubá, barriga d'água/ Há um diz que tem e no balaio tem também/ Um som bordão bordando o som, dedão, violação".  Esses versos de canto nagô, iorubá e o escambau, parecem uma parlenda, um legítimo trava-língua brasileiro, de fazer a alegria dos fonoaudiólogos que ganham a vida nessas terras.


Mas observem que aparentemente alguém publicou o vídeo em 2008, o que demonstra que não é de hoje que os dois se encontram nos bailes da vida. Pois agora, com o bandolinista em vasta cabeleira, João Bosco e Hamilton de Holanda se encontram em Brasília, para série de shows no teatro da Caixa. Os ingressos do espetáculo intitulado "Eu Vou Pro Samba" estão esgotados, como de costume naquele espaço, mas fica aqui o registro deste raro encontro de talentos, aqui nesta capital.

Os dois afirmando entre cordas que a cultura brasileira é algo sólido, superior, o oposto desses tempos de má brasilidade que nos sufoca, subjuga e humilha. Quanto ao título, um tiro ao alvo: tá feliz ou tá triste? Corre pro samba. Tudo se resolve.


João Bosco, um dos mais queridos e respeitados cantores/compositores da MPB, e Hamilton de Holanda , o reinventor do bandolim, são capa da revista Roteiro Brasilia, edição de junho de 2017. O autor deste blog assina matéria sobre o encontro, sendo destaque a mini-entrevista feita com os músicos. Em Brasília ou qualquer outra latitude, João Bosco e Hamilton de Holanda, juntos ou separados, provas pétreas de que a música é nossa voz mais eloquente.


sábado, 3 de junho de 2017

Arnaldo's Jukebox em Brasília

Louco é quem me diz e não é feliz...



Esqueça, aliás, renove suas convicções a respeito da música. Ou pelo menos de como ela normalmente deve ser mostrada em público, em uma sala de espetáculos, por exemplo.


Com o espírito desarmado e a alma despojada de egoísmo e interesses encare a apresentação do ex-Mutantes Arnaldo Baptista, em raríssima e desde já histórica aparição solo, no teatro da Caixa, em Brasília, dias 2, 3 e 4 de junho de 2017.

É a experiência garantida de que humanos somos e de quão capazes quando o amor e a dignidade norteiam nossas existências. Não importa que a gente viva 5, 20, 70 ou 100 anos. É sempre tempo muito pouco para ser feliz; a eternidade em um momento.

Arnaldo no Teatro da Caixa em Brasília (Foto: Hoana Gonçalves / Facebook)

O que se viu e ouviu na primeira noite da temporada no teatro da Caixa foge à compreensão, o senso comum, de como um artista deve se portar em público. No show Sarau o Benedito?, Arnaldo Baptista instiga a fruição musical, a inteligência e os sentimentos da plateia, de modo que só os assim chamados gênios conseguem fazer.

Arnaldo: Sarau o Benedito?

No palco, apenas ao piano e tendo ao fundo projeções de desenhos de sua autoria, Arnaldo encarna uma personalíssima jukebox, na qual rodam suas canções e de autores alheios, significativamente escolhidos.

Arnaldo Dias Baptista e as canções transfiguradas

O canto engole frases, a voz às vezes fraqueja, os semitons saltam em relevo, as notas parecem trôpegas; o piano, afinal, responde como extensão dos comandos do executante.

Arnaldo é emoção à flor da pele, um menino feliz brincando com a música e com a plateia que o reverencia a todo momento. Suas músicas parecem transfiguradas, assim como suas favoritas dos Mutantes, Bob Dylan, Beatles, Peter, Paul & Mary, The Rolling Stones, Harry Belafonte, Chris Montez, Burt Bacharach, Elton John, Yves Montand. Pouco importa, tudo importa.


Felicidade é a pedra de toque, a chave de tudo. Só de ver essa pessoa assim ganhamos o dia. Uma noite de lágrimas de felicidade.

Eu juro que é melhor/ não ser o normal...


Em tempo: enquanto Arnaldo desconcertava em Brasília, São Paulo via no mesmo dia a premiére de Antinomies I, obra "perdida" de Rogério Duprat, o maestro da Tropicália. Nas projeções em vídeos, no auditório do Ibirapuera, vários desenhos de Arnaldo Baptista.



Agora, felicidade transbordante só mesmo levando para casa a nova edição em vinil 180 gramas do espetacular Loki?, masterpiece de Arnaldo lançada em 1974. Crianças, esse é um dos maiores discos de rock'n'roll de todos os tempos. Detalhe: sem guitarras!