Resumindo: de certa forma decepcionante a apresentação da banda Dire Straits Legacy, em Brasília. O som do ginásio Nilson Nelson comprometeu a qualidade do show, em que pese a presença de grandes músicos do rock britânico, nesse tributo à banda criada pelo guitarrista escocês Mark Knopfler. Não apenas. O público inconveniente também marcou presença.
No estudo básico da Física consagrado às ondas, o som tem destaque, com suas características dissecadas, que permitem certo entendimento desse fenômeno, um tanto parecido com a luz. Basta folhear qualquer livro de princípios da Física: está lá que as ondas sonoras estão sujeitas a fenômenos como a reflexão, refração, difração e interferência.
Por ora, fiquemos com esse último. A interferência, é fácil perceber, ocorre quando ondas sonoras emitidas por mais de uma fonte se encontram, sendo comum que uma destrua a outra, gerando com resultado o barulho indesejado e perturbador.
DSL em Brasília (21/janeiro/2018) |
Não é preciso ir até o fim desse texto, para saber o que ocorreu em Brasília. O som do ginásio Nilson Nelson foi pessimamente preparado para dar conta do recado. E de certa maneira frustrou a expectativa. Cerca de 10 mil pessoas (!) – excelente público – encheram a casa, querendo um pedaço daquilo que nunca tiveram: curtir Dire Straits (que nunca tocou no Brasil) ao vivo, mesmo com a ausência imperdoável da guitarra de Mark Knopfler.
Mark Knopfler, grande ausente |
No caso do DSL, ficou claro que a sonorização adotada pela produção do evento só podia dar no que deu, em interferência e barulho que impediram a audição clara e, por conseguinte, a curtição das músicas dos Dire Straits que, em disco, são apresentadas como um primor de gravação. Que o diga o álbum best-seller Brothers In Arms (1985), um marco na indústria fonográfica mundial quando da transição do LP para o CD, etc.
No Nilson Nelson, os alto-falantes posicionados apenas à frente do palco tiveram alcance limitado como fonte sonora. A qualidade do áudio diminuiu em relação à distância da fonte e o barulho acabou com a festa. Quem estava nas cadeiras ou nas mesas posicionadas ao fundo da parte inferior do ginásio recebeu o som embolado e sem definição; quem estava nas arquibancadas, sofreu mais. Como o conjunto de caixas de som era limitado, de fraca potência, nas arquibancadas a música se perdeu. A interferência causada pelo barulho das conversas da plateia acabou por soterrar o som do Dire Straits Legacy.
Profusão de celulares: melhor filmar que curtir o show |
Ademais, outro fator, o comportamental, diz muito sobre a situação. Por que diabos as pessoas passam o show inteiro gravando a apresentação no celular? Isso não é novidade. No show do DSL, poucas vezes a turma do gargarejo pulou e vibrou. O que mais se via eram pessoas estáticas, smartphones em punho.
Quanto ao falatório, a atitude não foi apenas desrespeitosa para com os músicos e com aqueles que gostariam de realmente ter apreciado o show. Parece ter a ver com aspectos culturais típicos do comportamento dos brasileiros privilegiados, aqueles capazes de pagar ingresso, e que não exatamente por isso estão se lixando para códigos de conduta, etiquetas do comportamento em público.
Brothers In Arms |
Evento x música. Como dito, é show de rock, não missa católica ou culto protestante. Mas ainda assim, resta a música, que é o que justifica o evento. O raciocínio de consumidor é simples. Você pagou pelo ingresso, merece o que foi prometido. E o que foi prometido era a música dos Dire Straits, canções que marcaram muitas vidas, uma era inteira, se pensarmos no contexto que se encaixa a música de Mark Knopfler e associados.
Quem veio tocar a música dos Dire Straits? Ex-membros da banda estavam lá: Alan Clark (teclados), Danny Cummings (percussão), Mel Collins (sopros) e Phil Palmer (guitarra) estiveram, nos momentos de ouro, em gravação e ao vivo com Knopfler e os componentes originais. Além de Steve Ferrone (bateria de Tom Petty & The Heartbreakers), os italianos Marco Caviglia (voz principal e guitarra) e Primiano Di Biase (teclados), e o lendário Trevor Horn (Buggles, Yes, Art of Noise), no baixo.
Lendas: no sax, Mel Collins; no baixo, Trevor Horn |
Derretendo corações: Sade em Brasília, outubro de 2011 |
Tributo impagável: Tim Nice But Dim (Harry Enfield), 1997: